Residensity

23 de agosto de 2023

Adrian Smith + Gordon Gill Architecture (AS+GG), um dos mais renomados escritórios de arquitetura em projetos de arranha-céus, foi fundado em 2006 por três arquitetos discípulos de outro renomado escritório, o S.O.M. Adrian Smith, Gordon Gill e Robert Forest trouxeram consigo a experiência de terem realizado projetos como Burj Khalifa, Pearl River Tower e Jim Mao Tower, entre outros. 

Hoje, são responsáveis pela construção do Jeddah Tower, futuro edifício mais alto do mundo com mais de 1.000 metros de altura, cujas obras estão paralisadas, e do Central Park Tower, arranha-céu em Nova York que já abordei em coluna publicada aqui no Caos Planejado.

Fora o know-how de projetos de arranha-céus e de outros de diferentes escalas, o escritório vem produzindo pesquisas multidisciplinares no intuito de desenvolver um maior entendimento em como realizar projetos mais sustentáveis aos locais de atuação. Uma dessas pesquisas originou o livro que indico nesta coluna: Residensity: a carbon analysis of residential typologies.

Em suma, a pesquisa abordada no livro busca compreender qual a tipologia de uso residencial mais adequada para ser construída nas urbes. Para isso, o AS+GG estabelece nove protótipos de edificações residenciais e realiza análises em diferentes quesitos, como o uso do solo, energia, transporte e carbono. Realizados os experimentos, concluem com perspectivas para a criação de uma cidade protótipo. 

Os nove protótipos de edifícios residenciais são: “mega alto” (213 andares e 2.000 unidades), “super alto” (121 andares e 1.000 unidades), “edifício alto” (65 andares e 500 unidades), “edifício médio” (38 andares e 200 unidades), “edifício baixo” (8 a 20 pavimentos e 100 unidades), “edifício pátio” (4 pavimentos e 20 unidades), “três-flat” (3 andares e 3 unidades), “unifamiliar urbana” (2 andares e 1 unidade) e “unifamiliar suburbana” (2 andares e 1 unidade).

A primeira análise, uso do solo, é feita pela quantidade necessária de terra para abrigar 2.000 unidades residenciais. Nas análises energéticas, são averiguados os consumos de aquecimento, resfriamento, iluminação, carga de tomadas, ventiladores, água quente, bomba hidráulica, perda de calor e elevadores. 

Em transportes, foram considerados caminhada, bicicleta, transporte público e privado, entretanto, os arquitetos ponderaram não ter conseguido extrair muitos resultados, pois medir a emissão de carbono nesse quesito iria além dos estudos tipológicos. Por fim, há a emissão de dióxido de carbono que abrange toda a esfera de construção dos protótipos estabelecidos.

Conclusões interessantes foram extraídas da pesquisa: seguindo parâmetros da norma energética dos E.U.A., o protótipo “edifício pátio” é o mais eficiente no quesito emissões de carbono, seguido pelos “unifamiliar urbano”, “três-flat” e “unifamiliar suburbano”. Mas, se essa métrica fosse mudada, e seguissem parâmetros de gasto energético canadense, por exemplo, a tipologia “edifício alto” passaria a ser a terceira mais eficiente. Isso sem levar em consideração o uso do solo, em que o “edifício alto” ocupa 89% menos terreno do que o “edifício pátio” para acomodar o mesmo número de pessoas.

No quesito uso do solo, as tipologias “edifício pátio” e “três-flat”, mesmo com uma pegada menor de carbono, seriam extremamente ineficientes onde o valor do terreno é mais caro, como em locais de alta densidade populacional. Dependendo do valor, os protótipos “mega alto” e “super alto”, com o uso de carbono elevadíssimo, seriam mais eficientes em relação ao custo da terra. Além disso, outros parâmetros poderiam ser escolhidos para mitigar o uso de carbono excessivo. Limitar a construção onde há demanda, organicamente levará as unidades a serem mais caras e de menor metragem quadrada.

O AS+GG argumenta que a variedade de tipologias seria o caminho a ser seguido, adequando edificações às demandas existentes. Dessa forma, haveria uma densidade também variada em que moradores poderiam escolher em qual residir. Não há uma densidade ideal e, sim, uma densidade inteligente, uma variação que beneficiaria o ambiente urbano. É nessas premissas que os arquitetos desenvolvem a cidade protótipo: a GREAT City Master Plan.

Podemos traçar alguns paralelos com discussões que geralmente acontecem, por exemplo: em revisões de Planos Diretores, analisar onde há demanda e infraestrutura é primordial permitir construir edifícios com coeficientes de aproveitamento altíssimos.

Já em locais mais periféricos e com uma demanda mais baixa, equalizar o potencial construtivo com áreas de infraestrutura maior é um erro, pois o uso do solo mais barato levará edificações maiores para a periferia, encarecerá a infraestrutura e tirará o local de casas e pequenas edificações, prejudicando o meio-ambiente e aumentando a pegada de carbono, como bem explica o livro, e algo comum que acontece por aqui.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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