Quais são as semelhanças e diferenças entre o mais alto edifício residencial de São Paulo e o de Nova York?
Já adiantando a resposta, são muitas diferenças e, talvez, uma única semelhança: ambos são arranha-céus de apartamentos luxuosos.
O Residencial Figueira Altos do Tatuapé possui 168 m de altura e 52 pavimentos com um apartamento por andar, totalizando 48 unidades residenciais. Já o Central Park Tower possui 472 m de altura, 98 pavimentos e um total de 179 apartamentos.
O Central Park Tower está localizado na Rua 57, região conhecida como Billionaires Row por concentrar os arranha-céus mais luxuosos de Manhattan e está a duas quadras do Central Park. Já o Residencial Figueiras Altos do Tatuapé, na Rua Itapeti em Tatuapé, bairro de classe média alta na zona leste de São Paulo localizado a 8 km do Centro.
As volumetrias são distintas também. Enquanto o Figueiras Altos do Tatuapé é um prisma uniforme sobre embasamento, o Central Park Tower possui sua volumetria esculpida gerando terraços condominiais e privativos até o topo.
A forma do edifício de São Paulo provém de fórmulas matemáticas que isolam a edificação no meio do lote, afastando-a de qualquer testada do terreno. Para construir o arranha-céu de Nova York, também foram obedecidas regras que ditaram a volumetria do edifício. Porém, com regulamentos que não o afastaram das calçadas. Inclusive, com leis que permitiram uma volumetria que avançasse por cima de seus vizinhos.
Por falar em calçada, como é a relação deles com o ponto de contato com a rua, o térreo?
O térreo do Residencial Figueira Altos do Tatuapé é cercado por um muro de vidro. Atrás dessa cerca se enxerga jardins, a base de um pavimento é destinada à garagem e às áreas condominiais. Há uma guarita com duas eclusas — moradores/visitantes e serviço — que serve como pórtico de entrada da edificação que está lá atrás. São 150 m de perímetro de terreno sem nenhum tipo de ativação urbana.
Já o térreo do Central Park Tower não possui jardim e, sim, um embasamento de 7 andares que está alinhado com a rua e é destinado a uma loja de departamentos. A entrada para o arranha-céu também está na base, mas em um canto. Dos 45 m lineares de terreno, 35 m são vitrine da loja e os outros 10 m de acesso ao condomínio. Acessos de veículos e infraestruturas estão localizados na rua de trás, a 58th, menos importante, mas ainda assim com os primeiros pavimentos transparentes para que se possa enxergar a loja por dentro.
Os apartamentos do Residencial Figueira Altos do Tatuapé custam em torno de 7 milhões de reais. Já as unidades do Central Park Tower partem de 6,5 milhões de dólares e podem chegar a 250 milhões, a cobertura.
Muita diferença, não?
Um é o exemplo de como o arranha-céu pode ativar a vida urbana de uma rua e o outro completamente o oposto. E como podem dois arranha-céus de apartamentos de luxo serem tão diferentes entre si?
Parte das diferenças ditas nesse texto estão ligadas às regulamentações urbanísticas de cada cidade. Nova York possui uma quantidade enorme de regras de zoneamento e morfológicas, mas permissíveis ao ponto de construir um arranha-céu de 472 m de altura. Provavelmente, São Paulo não possua metade dos regramentos de NYC, mas o suficiente para isolar no meio do terreno uma torre de 168 m de altura.
Um edifício tal qual o Central Park Tower não é construído na região central de São Paulo não por falta de demanda, mas por leis urbanísticas que não permitem a construção. Aliás, dificilmente o Figueira Altos do Tatuapé seria construído também. Não haveriam terrenos que permitissem que a torre residencial fosse alocada. Com demanda e legislações mais brandas, certamente incorporadores e construtores ergueriam arranha-céus como esses mais próximos do Centro.
Agora, porque o Residencial Figueira Altos do Tatuapé não possui nenhum tipo de ativação na sua fachada? Talvez, pela falta de procura de comércio em uma rua de bairro residencial? Ou porque os moradores se incomodariam em ter lojas logo embaixo de seus apartamentos?
Aliás, se houvesse legislações mais permissíveis e fosse liberado construir, em um terreno menor, um edifício residencial de luxo de 168 m de altura, na região central de São Paulo, com lojas no térreo, os apartamentos valeriam 7 milhões? Haveria moradores dispostos a pagar esse valor?
A outra parte dessas diferenças está intrinsecamente relacionada à nossa cultura de morar e viver em uma cidade.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.