Sete cidades do mundo — entre elas Délhi, Lahore e Cidade do México — enfrentam níveis críticos de poluição atmosférica. Em algumas, respirar ao ar livre é uma ameaça diária à saúde. Mas isso não é um problema exclusivo do outro lado do mundo. O Brasil tem seus próprios sinais de alerta.
Em cidades como São Paulo, Cubatão, Belo Horizonte, Manaus e Porto Alegre, a qualidade do ar varia conforme a estação, o relevo, o tráfego e os incêndios no entorno. No período seco, a situação piora, afetando diretamente a saúde respiratória da população — principalmente crianças e idosos. Ainda que os dados não cheguem ao extremo de algumas megacidades globais, ignorá-los seria perder uma oportunidade de agir preventivamente.
E aqui não se trata de discursos alarmistas ou de buscar culpados, mas de olhar para o urbano com responsabilidade prática. Árvores que evitam a formação de ilhas de calor ainda são vistas como entrave para a fiação. Transporte público limpo ainda avança de forma tímida, enquanto boa parte da frota segue movida a diesel. E mesmo políticas de incentivo à mobilidade ativa muitas vezes são implantadas sem o mínimo conforto climático necessário — ciclovias sob sol direto, calçadas sem sombra, pontos de ônibus sem abrigo.
Se respiramos pior a cada ano, isso tem menos a ver com ideologia e mais com escolhas cotidianas. Com decisões simples — como manter áreas verdes, melhorar a ventilação urbana, priorizar calçadas e corredores de ônibus arborizados, fortalecer sistemas de drenagem e ampliar o monitoramento do ar nas regiões mais vulneráveis.
É também uma questão de coerência: se queremos cidades mais resilientes, é preciso começar pelo básico. E ar limpo é o básico.
A boa notícia é que já temos cidades brasileiras que apresentam bons resultados nesse tema. Curitiba, Palmas, Vitória e até bairros de Florianópolis mantêm níveis consistentes de qualidade do ar. Não porque investiram em soluções milagrosas, mas porque aplicaram princípios de planejamento urbano bem executados: ocupação equilibrada, transporte eficiente, áreas verdes bem distribuídas.
O urbanismo não precisa de palavras grandes para justificar o que é simples. Respirar bem deve ser uma premissa — não uma ambição futurista. E cidades que respeitam essa lógica são aquelas que funcionam melhor.
No fim das contas, o ar que respiramos também é um indicador da cidade que construímos. E quando isso entra na pauta do planejamento urbano com clareza e bom senso, todo o resto começa a respirar junto.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.