Quando engordar faz muito bem

31 de outubro de 2024

A intervenção na Praia de Ponta Negra, em Natal (RN), conhecida como “engorda”, representa mais um marco na revitalização de áreas costeiras no Brasil. A ação visa combater a erosão, ampliar a faixa de areia e revitalizar a paisagem urbana. Assim como outras cidades brasileiras, Natal decidiu investir em obras que envolvem o alargamento da praia, proporcionando não só benefícios ambientais, mas também econômicos e turísticos.

É fato que boa parte das cidades litorâneas no país foram “construídas no lugar errado”, perto demais da  faixa de praia. A Praia de Ponta Negra, um dos principais cartões-postais de Natal, está enfrentando severos problemas de erosão costeira, que ameaça a faixa de areia, o calçadão, as infraestruturas próximas e o principal cartão-postal da cidade, o Morro do Careca. O avanço do mar, intensificado por mudanças climáticas e ações humanas, reduziu consideravelmente o espaço para os banhistas e afetou negativamente o turismo, principal atividade econômica da região.

Para combater essa degradação, a prefeitura de Natal optou por um projeto de engorda da praia, que consiste em ampliar a faixa de areia através da reposição de sedimentos, aumentando assim a proteção contra a erosão. O resultado esperado é a recuperação do espaço de lazer, uma revitalização do turismo e a proteção das infraestruturas. A intervenção possibilitará que restaurantes, hotéis e o comércio local voltem a atrair turistas e moradores com mais segurança, além de valorizar a paisagem natural.

Natal não está sozinha nessa empreitada. A “engorda” de praias já foi utilizada com sucesso em outras cidades litorâneas brasileiras. Em Balneário Camboriú, Santa Catarina, um dos exemplos mais famosos do país, a ampliação da praia em 2021 trouxe uma nova vida à orla, com aumento expressivo no número de turistas. 

Outro caso bem-sucedido foi em Fortaleza, na Praia de Iracema, onde a recuperação da orla possibilitou o desenvolvimento de novos espaços de convivência e a retomada de eventos culturais e turísticos. Essas ações, além de preservarem o patrimônio natural, impulsionam a economia local, gerando empregos e aumentando a arrecadação do município.

Apesar dos benefícios claros, a “engorda” de praias exige uma série de cuidados após a execução da obra. A gestão pública precisa garantir a manutenção contínua da faixa de areia, pois o processo de erosão natural não cessa. A reposição de sedimentos pode ser necessária periodicamente, além de um monitoramento constante para avaliar os impactos no ecossistema marinho e na qualidade da água.

Outra preocupação é a ocupação desordenada das áreas recuperadas. Com o aumento do espaço, é comum a pressão por novos empreendimentos, ou expansão da infraestrutura turística, ou mesmo a disputa pelo uso da praia entre banhistas, ambulantes e barraqueiros, o que pode comprometer a sustentabilidade do local no longo prazo. Por isso, neste caso é fundamental que o poder público implemente políticas de ordenamento urbano e ambiental rigorosas, garantindo que o uso do solo seja feito de maneira equilibrada e responsável.

Além disso, as cidades devem estar atentas às mudanças climáticas e ao aumento do nível do mar, que podem agravar os desafios costeiros. Medidas como a recuperação de mangues, que atuam como barreiras naturais, devem complementar as obras de engorda, fortalecendo a resiliência das áreas litorâneas.

A engorda da Praia de Ponta Negra em Natal e de outras praias brasileiras demonstram que essa é uma solução eficaz para proteger e revitalizar áreas costeiras afetadas pela erosão. No entanto, o sucesso a longo prazo depende de um planejamento cuidadoso e de uma gestão contínua dos recursos naturais. A praia alargada pode ser uma grande aliada do desenvolvimento econômico e turístico, mas também traz responsabilidades que precisam ser compartilhadas entre o poder público, o setor privado e a sociedade.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Arquiteta e urbansita, especialista em Gestão de Projetos e mestre em arquitetura pela UFRN. Atualmente é sócia da PSA Arquitetura em São Paulo e da PYPA Urbanismo & Desenvolvimento Urbano em Natal-RN. ([email protected])
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