E se fossem as raízes das árvores a ocuparem as construções, transformando muros em solo fértil e concreto em floresta?
Vivemos um tempo em que o adensamento urbano cresce de forma cada vez mais acelerada, muitas vezes ignorando a importância vital das áreas verdes para o equilíbrio ambiental, o bem-estar e a qualidade de vida. Resultado de um planejamento urbano muitas vezes centrado apenas no cumprimento de metas sem uma visão macro e sensível do território, de suas conexões, de seus fluxos e de sua gente. Em paralelo, o mercado imobiliário atua com força cada vez mais concentrada, moldando a cidade conforme interesses privados e afastando qualquer possibilidade de equilíbrio entre construção e preservação.
Nas favelas, essa realidade se intensifica. A precariedade não nasce da presença das famílias, mas da ausência do Estado: falta de zeladoria, de manutenção dos espaços públicos, de fiscalização e de políticas urbanas que reconheçam e respeitem os territórios populares. O abandono se revela em escadarias sem iluminação, ruas sem drenagem, áreas verdes esquecidas, transformadas em depósitos de lixo ou pontos de risco, construções são erguidas em ritmo contínuo, ocupando os espaços livres, engolindo córregos, nascentes e as últimas brechas de natureza.
Mas e se fosse ao contrário? E se fossem as raízes a tomarem o protagonismo, se expandindo pelas frestas do concreto, ocupando as paredes das moradias com vida e sombra? E se os espaços residuais, esquecidos e degradados, se tornassem pontos de regeneração ambiental, social e cultural?
Isso pode soar utópico e talvez seja justamente esse o papel da utopia, provocar novas possibilidades e imaginar futuros diferentes. Mas é importante refletir sobre caminhos alternativos para as cidades, sobretudo diante da perda contínua do que é mais valioso, a conexão com a natureza, os ecossistemas locais e o equilíbrio ambiental dos territórios.
E se, ao contrário, passassem a priorizar construções verticais mais densas, mas com menor ocupação no solo, permitindo a ampliação das áreas permeáveis e vegetadas? E se a taxa de permeabilidade prevista no zoneamento urbano fosse ampliada, estimulando lotes com mais cobertura vegetal e integração com a natureza?
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.