A questão climática e ambiental, bem como seus efeitos sobre as cidades, se tornou um dos temas mais discutidos ao longo deste ano devido à ocorrência de eventos como as enchentes no sul do país e as queimadas da região norte e centro-oeste, as quais tiveram seus efeitos sentidos por todo o território brasileiro devido ao espalhamento da nuvem de fumaça decorrente do fenômeno.
As consequências causadas pela supressão de vegetação e seus efeitos no meio ambiente é um tópico bem estabelecido em trabalhos e pesquisas sobre o tema. Nesta coluna, queremos estender essa discussão para abordar a utilidade da vegetação presente no espaço urbano. Para isso, utilizamos os dados que produzimos para a elaboração do indicador de vegetação e população, cujos resultados estão divulgados na página de indicadores de desempenho urbano do Instituto Cidades Responsivas.
Para o cálculo desse indicador, nós estimamos, a partir de imagens do satélite Landsat, a densidade de vegetação em cada fração territorial de 30X30m das capitais brasileiras. Com base nessa informação, computamos a densidade média de vegetação nas proximidades dos domicílios e locais de trabalho de cada cidade, sendo essa densidade média utilizada como o valor final do indicador. Assim, os resultados mostram quais as cidades onde a vegetação existente está mais próxima das áreas mais densificadas, apresentando, portanto, maior potencial de mitigar problemas como ilhas de calor e poluição atmosférica ou de contribuir com a drenagem urbana por meio do aumento da permeabilidade do solo.
Uma forma de visualizar os benefícios de se ter mais vegetação incrustada nos centros urbanos é verificar qual a temperatura média do solo ao longo do ano em cada parte de uma cidade e comparar tais dados com a distribuição espacial das densidades de vegetação. Um exemplo desse tipo de análise é mostrado na figura abaixo para a cidade do Rio de Janeiro: no primeiro mapa, as áreas em tons amarelos indicam onde há mais vegetação no entorno dos domicílios; já no segundo mapa, as cores mais escuras mostram onde a temperatura do solo foi maior durante os últimos doze meses. É interessante observar que há uma correlação entre os dois mapas, no sentido que áreas com mais vegetação em seus arredores tendem a apresentar menor temperatura média do solo, enquanto áreas com escassez de vegetação apresentam algumas das temperaturas mais altas.
Esse tipo de análise poderia contribuir para o planejamento urbano de nossas cidades indicando regiões da cidade para as quais seria mais importante pensar estratégias de como incluir mais elementos verdes. Tais medidas poderiam ser o estabelecimento de novos espaços públicos abertos, a criação de medidas que incentivem áreas permeáveis em empreendimentos privados ou, simplesmente, o investimento em aumentar a arborização viária. Além disso, o indicador apresentado também poderia ser utilizado para caracterizar o crescimento das cidades, indicando se os novos loteamentos mantêm o padrão do restante do município ou o quanto uma eventual supressão de vegetação devido ao processo de urbanização influencia os domicílios circundantes.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.