Quando ingressei no mestrado, em 2008, meu objeto de pesquisa era a construção do bairro de Copacabana. Na época, já trabalhava com projetos de edificações e legislação urbanística, e minha visão da cidade estava restrita às construções. Eu não tinha um olhar voltado para os espaços livres e, na verdade, nem compreendia direito esse conceito.
Ao entrar no programa, juntei-me ao grupo de pesquisa liderado, no Rio de Janeiro, pela minha orientadora, Vera Tângari, e em nível nacional pelo nosso mestre Silvio Soares Macedo. Foi nesse contexto que fui apresentado ao universo dos espaços livres, definidos por Miranda Magnoli como todos os espaços “livres de edificação”, ou seja, todos os espaços descobertos, sejam eles urbanos ou não, vegetados ou pavimentados, públicos ou privados.
Nos encontros do grupo, percebia a preocupação dos pesquisadores, principalmente com os espaços livres públicos, tema de grandes discussões. Com o tempo, compreendi que o maior espaço livre público era a rua. No entanto, meu olhar ainda estava muito voltado para a esfera privada: como poderíamos entender esses espaços dentro dos lotes privados e de que forma eles poderiam contribuir para o espaço urbano?
Concluí minha dissertação apresentando uma metodologia que demonstrava que a relação entre a largura das ruas de Copacabana e a altura dos edifícios era menor do que entre esses edifícios e os espaços livres intraquadras — análise que pode ser conferida na minha coluna de outubro de 2024. No entanto, foi durante minha pesquisa de doutorado que comecei a refletir sobre como poderíamos projetar as cidades a partir dos espaços livres.
Estudando a ocupação de uma área de expansão da cidade, ainda em processo de urbanização, essa lógica tornou-se mais evidente. Durante os debates do grupo de pesquisa, ficou claro que nos apropriamos das cidades principalmente quando estamos nas ruas, parques ou praças. Então, por que não pensar a forma urbana a partir dos espaços livres? Em vez de simplesmente reservar áreas para edificações, poderíamos primeiro definir as melhores ruas, os melhores parques e praças — e apenas então determinar os espaços edificáveis. Dessa forma, conseguiríamos conectar melhor os espaços livres públicos e privados, promovendo maior fluidez e vitalidade para as quadras.
Os espaços livres nas cidades brasileiras, especialmente os privados, são, em grande parte, resultado da aplicação pura das legislações urbanísticas, sem uma preocupação efetiva com a qualidade da relação entre o espaço público e o privado. Isso fica evidente na proliferação de gradeamentos, que impedem a conexão entre as calçadas e os recuos frontais, fragmentando ainda mais a paisagem urbana.
Podemos imaginar que urbanistas do passado tinham essa preocupação — exemplos disso são Cerdá, em Barcelona, e Agache, no Rio de Janeiro. No entanto, ao longo do tempo, especialmente a partir da década de 1970, fomos perdendo o foco no desenho urbano e na valorização dos espaços livres como protagonistas das cidades.
Está em nossas mãos resgatar essa visão. Vamos ensinar isso aos futuros arquitetos e urbanistas, reafirmando a importância dos espaços livres na construção de cidades mais conectadas, acessíveis e vibrantes.
Viva os espaços livres!
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.