Project for Public Spaces/PPS

24 de outubro de 2025

Placemaking e generosidade

O Project for Public Spaces (PPS) é uma organização não governamental que lida com planejamento, projeto, pesquisa e educação vinculados aos espaços públicos. Foi criada a partir da expansão do trabalho de William Whyte por um de seus pesquisadores, Fred Kent, em 1975. Kent depois se uniu a Kathy Madden e Steve Davies para dar continuidade à iniciativa. O PPS traz vastíssima contribuição ao campo de conhecimento dos espaços públicos e uma longa história de apoio às comunidades e governos para criação e transformação de lugares. É referência generosa e inescapável, e recomendo os treinamentos e a leitura do material disponível no site.

Foi o PPS que desenvolveu um método para criar ou transformar espaços públicos chamado placemaking (neologismo que pode ser compreendido por “criação de lugares”). O seu excelente diagrama What makes a place great, que explica os quatro atributos (mais locais que globais) de um espaço bem-sucedido, representa bem sua visão e é a base de seu trabalho. São eles:

1) Usos e atividades – um ótimo lugar deve oferecer muitas atividades. As pessoas têm que ter motivos para ir até ele, e para voltar. Para isso, ele oferece um conceito útil: A força das 10 (The power of 10), que traz a ideia de que um ótimo lugar precisa oferecer pelo menos 10 coisas para se fazer nele ou 10 razões para se estar lá.

2) Conforto e imagem – o lugar deve tirar o melhor partido possível das condições climáticas, possibilitar condições adequadas para permanência, promover sensação de segurança e favorecer um ambiente amigável ao pedestre. Deve ainda ser atraente, possuir elementos significativos, que representem a comunidade ao seu redor.

3) Acessos e conexões – o lugar deve ser fácil de se alcançar e de se atravessar, e deve ser visível tanto de longe quanto de perto. Suas conexões com as áreas circundantes devem ser diretas e seguras de serem percorridas a pé, e ele deve ser acessível a todas as pessoas, por todos os meios de transporte. Seus espaços devem estar adequadamente dimensionados para acolher tráfego de pedestres.

4) Sociabilidade – um ótimo lugar tem muitas pessoas, pessoas sozinhas, pessoas em grupos, casais, desconhecidos fazendo contato, pessoas encontrando-se com amigos, conversando, cumprimentando-se e despedindo-se, sorrindo, demonstrando afeto. Deve haver uma proporção especialmente alta de mulheres, já que elas tendem a ser mais seletivas com os lugares. Deve haver gente de todas as faixas etárias. Deve haver uma diversidade de pessoas que reflita a comunidade onde o espaço se localiza.

Em 2010, fiz dois cursos oferecidos por eles: Streets as places (Ruas como lugares), e How to turn a place around (Como transformar um lugar). Foram, para mim, absolutamente revolucionários: além da experiência de conhecer Nova York, cidade sede da organização, conheci seus conceitos e métodos de projeto, educação urbanística e engajamento comunitário; aprendi técnicas de levantamento, ampliei imensamente meu repertório, e, sobretudo, tive contato com aquelas pessoas fabulosas, idealistas, acessíveis e inspiradoras que criaram e, à época, ainda geriam a organização: Fred Kent e Kathy Madden. Eles ajudaram a moldar meu olhar para as pessoas, e a eles sou imensamente grata.

Em tempo: esta semana, dia 20 de outubro de 2025, Kathy faleceu. Fica esta pequena homenagem a uma mulher que dedicou sua vida a transmitir seu entusiasmo por espaços públicos vivos e que trouxe imensa contribuição ao nosso campo de estudo. 

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Arquiteta, professora da área de urbanismo da FAU/UnB. Adora levantamento de campo, espaços públicos e ver gente na rua. Mora em Brasília. ([email protected])
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