Princípios sim, ideologia não

31 de julho de 2025

A primeira “lente” (ou filtro) que o ser humano precisa usar em qualquer situação é a dos princípios. Em segundo lugar, vem a lente da ética e, em terceiro, a da moral.

A lente da ideologia (e das inclinações e preferências pessoais) não deveria importar muito, mas se não puder ser evitada, que jamais venha antes das lentes do princípio, da ética e da moral. Nesse assunto, a ordem dos fatores altera – e compromete – o resultado. 

A explicação é bastante simples e fácil de entender: quem se permite perceber o mundo tendo a lente da ideologia e das inclinações pessoais como a primeira e principal ignora os fatos e as evidências em favor de concepções preestabelecidas. É gente que vive procurando a pergunta que se encaixe na resposta que já tem.

Isso explica, de forma clara, sem rodeios, a mentalidade e a visão de mundo de quem vem criando os planos diretores e dando a direção para as cidades brasileiras dos últimos 40 anos.

Quem demoniza os empresários e o mercado imobiliário abafa a oferta, estrangula potenciais construtivos, limita altimetria dos prédios, limita a quantidade de unidades em cada prédio, cria afastamentos desnecessários e dificulta o bom aproveitamento dos lotes, quando não limita usos e determina regiões inteiras onde nada além de residências unifamiliares pode ser construído.

Onde a ideologia anticapitalista, a demonização do lucro e a má vontade com o empreendedorismo falam alto e vicejam, as cidades se espalham, perdem vitalidade, se deterioram e veem o custo da terra e das unidades produzidas aumentando exageradamente. A administração municipal, principal indutora de modelos totalmente perversos, vê a cidade pouco densa e espalhada drenando seus orçamentos e sua capacidade de gerir a cidade.

Enquanto isso, o planeta apresenta, a cada dia, mais evidências de que a alta densidade, o atendimento – sem abafamento – da demanda e a ocupação máxima dos lotes (sem afastamentos obrigatórios) são caminhos necessários e obrigatórios para que as cidades se mantenham compactas, preservem a sua vitalidade, enriqueçam (atraindo os melhores cérebros e os melhores empreendedores) e ofereçam segurança pública, transporte público de massa por trilho, infraestrutura ampla e, mais importante, oportunidades de educação e crescimento profissional a todos os extratos da população.

Quando os planos são concebidos à luz da ideologia e inclinações pessoais, a realidade, os exemplos concretos, as evidências e os fatos saem da sala, e desejos infantis, ingênuos e até tolos ocupam o espaço e se divertem com a miséria provocada.

Nunca deu certo, e nunca dará.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Arquiteto e Urbanista, sócio da incorporadora CASAMIRADOR e fundador do INSTITUTO CALÇADA. Acredita que as cidades são a coisa mais inteligente que a humanidade já criou. ([email protected])
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