A arquitetura, historicamente, sempre foi um campo elitista. Durante toda a minha trajetória como estudante de Arquitetura e Urbanismo, o contato com projetos sociais, com a realidade das favelas ou com políticas públicas como a Assistência Técnica em Habitação de Interesse Social (a chamada ATHIS) simplesmente não existiu. Mesmo sendo uma lei bem fundamentada, a ATHIS, por muito tempo, foi mais um documento de boas intenções do que uma prática de fato incorporada ao cotidiano da profissão.
Foi só ao longo dos últimos anos que começamos a ver uma movimentação mais concreta de arquitetos e urbanistas atuando diretamente em territórios periféricos, centros urbanos e áreas rurais. Antes disso, quem atuava em favelas ou áreas vulneráveis, em sua maioria, estava vinculado a algum órgão público, como prefeituras ou secretarias de habitação. A atuação fora das estruturas do Estado, de forma independente ou através de coletivos, organizações sociais e escritórios voltados para o impacto social, era praticamente inexistente ou muito pontual. Essa mudança de perfil abriu espaço para uma nova arquitetura, mais próxima das pessoas e das suas realidades.
Reforçar o social na arquitetura é reconhecer que o direito à cidade e o direito à moradia digna são fundamentais para reduzir desigualdades.
Dentro da arquitetura social, também se abre um campo fundamental para a discussão da sustentabilidade. Falar de construção nas periferias é falar de reaproveitamento de materiais, de novas tecnologias de baixo custo, de soluções sustentáveis que respeitam o meio ambiente e, ao mesmo tempo, respondem a uma urgência social.
Acredito que, além de levar esse debate para dentro da academia, é urgente fomentar novas políticas públicas, fortalecer programas que incentivem a atuação de arquitetos nas periferias e criar caminhos para que a arquitetura social deixe de ser exceção e passe a ser regra.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.