Curitiba é uma cidade onde o verbo planejar parece ter virado hábito. Não é apenas um plano diretor ou um instituto de pesquisa urbana — é uma cultura. As pessoas entendem que o transporte, o calçamento e a arborização são parte de um mesmo desenho. E esse desenho, ainda que invisível, se mantém porque há uma crença comum de que a cidade é um bem compartilhado.
No Nordeste, a história é outra. As cidades parecem reinventar-se a cada gestão. Um prefeito muda o calçadão, o outro troca o mobiliário, o próximo remove o canteiro. E assim seguimos, com pedaços de boas ideias que nunca se completam. Não é falta de talento técnico ou de vontade política. É a ausência de continuidade, de uma cultura que reconheça o planejamento como uma tarefa de todos, e não como um projeto de governo.
Planejar é um verbo coletivo. Nenhum prefeito, arquiteto ou empresário planeja sozinho. É preciso que a sociedade compartilhe uma visão de cidade, ainda que intuitiva. Que entenda o valor do espaço público, do transporte coletivo, da densidade bem resolvida. Em Curitiba, o plano não é apenas um documento: é um pacto social silencioso. No Nordeste, ainda estamos tentando escrever o preâmbulo.
O desafio é transformar o planejamento em prática cultural. Em Natal, Recife ou Fortaleza, o que falta não é um plano, mas o senso de continuidade. Cada ciclo recomeça do zero, como se planejar fosse um evento — quando, na verdade, é um processo permanente.
Curitiba nos mostra que o segredo não está em desenhar uma cidade perfeita, mas em criar instituições e rotinas que protejam a coerência urbana das vontades passageiras. A cidade planejada é aquela que aprendeu a se autoplanejar.
Planejar não é um substantivo técnico, é um verbo comunitário. E talvez o futuro das cidades brasileiras dependa menos de novas leis e mais de uma mudança de gramática: trocar o “eu fiz” pelo “nós mantivemos”.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.