Neste artigo, busco compartilhar sobre a situação precária da malha viária nas pequenas cidades brasileiras e refletir sobre soluções, utilizando como ponto de partida uma recente viagem que fiz nesta Páscoa à Fazenda Sacramento, origem dos meus ancestrais, na cidade de Francisco Dantas, no interior do Rio Grande do Norte, a 398 km de Natal. A ocasião, que deveria ser de celebração e reconexão com minhas raízes, revelou-se marcada também pelo descaso e negligência com a infraestrutura básica de mobilidade do meu estado.
A estrada que liga Francisco Dantas a Pau dos Ferros, com seus meros 14 km de extensão, apresentava-se em condições lastimáveis, repleta de buracos e desníveis, retrato de décadas de abandono, do mesmo jeitinho de quando estive lá 15 anos atrás. As tímidas “operações tapa buraco” realizadas periodicamente apenas mascaram o problema ano após ano, nunca oferecendo uma solução definitiva. Essa realidade não é exclusiva dessa estrada, mas sim um reflexo de um problema sistêmico que afeta inúmeras localidades pelo país afora.
A malha viária desse pequeno município, Chico City para os íntimos, com 2.700 habitantes, como em tantos outros, desempenha um papel crucial na vida cotidiana de seus habitantes. Não se trata apenas de uma estrada, mas sim da principal via de acesso a serviços essenciais, como saúde, educação, trabalho e lazer.
É por essas estradas que os produtos agrícolas chegam aos mercados consumidores e, principalmente, é a principal estrada para o desenvolvimento, pois é através dela que os moradores buscam acesso a oportunidades fora de seus limites municipais. Foi inspirador conhecer como aquelas pessoas conseguem se desenvolver em meio à adversidade.
Ou seja, o descaso com a manutenção dessas vias compromete não apenas a qualidade de vida dos habitantes locais, mas também a economia e o desenvolvimento dessas regiões e mata seu potencial econômico. A falta de investimentos em infraestrutura de transporte torna as pequenas cidades ainda mais isoladas e dependentes de centros urbanos distantes, perpetuando um ciclo de desigualdade e estagnação.
O impacto desse abandono ficou ainda mais evidente durante o retorno no domingo de Páscoa, quando nos deparamos com a notícia de que uma ponte no caminho, na RN-304, que liga Natal a Mossoró, havia cedido devido ao rompimento de um açude. Essa interrupção na principal conexão entre as duas maiores cidades do estado impõe agora um desvio de mais de 100km aos motoristas, além de um prazo de reparo que pode se estender por até um ano. Diante desse cenário, questiono-me sobre o futuro dessas tantas pequenas cidades e de seus habitantes, buscando pensar soluções para esses desafios.
A melhoria da infraestrutura nas pequenas cidades requer um compromisso conjunto e coordenado de diversos atores, incluindo governo, setor privado, sociedade civil e comunidades locais. Importante pensar que a solução não está apenas nas mãos dos governantes, mas também na mobilização e na exigência de mudanças por parte de todos nós, cidadãos brasileiros.
É urgente que governo e federação primeiro reconheçam a importância estratégica dessas vias para o desenvolvimento regional e priorizem investimentos em sua manutenção e ampliação. Se a estrada de Francisco Dantas não for importante para você, não será importante para os governantes.
Além disso, destaco como alternativas: as Parcerias Público-Privadas – forma eficaz de angariar recursos e expertise; o Incentivo ao Empreendedorismo Local – para impulsionar a atividade econômica; a promoção de planejamento urbano sustentável que leve em consideração as necessidades específicas das pequenas cidades; e a participação da sociedade. O que você acha disso?
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.