Antes de iniciar minha primeira coluna no Caos Planejado, gostaria de explicar como será a linha dos meus textos. Neste espaço, trarei crônicas sobre o urbanismo carioca, com curiosidades que marcam a paisagem da cidade. Além disso, em alguns momentos, apresentarei opiniões sobre situações atuais que acontecem na cidade, como é o caso desta primeira edição. Todo o meu trabalho ao longo de 33 anos como arquiteto e urbanista, que se aprofunda a partir da publicação, em 2004, do meu livro O Rio de Janeiro nas Alturas, escrito com meu pai, baseia-se nas observações diárias que faço ao caminhar pelas ruas. Vários textos que trarei aqui são fruto dessas observações e da busca pelo entendimento de como surgiram diversas situações urbanas no Rio de Janeiro.
Para começar, resolvi trazer uma discussão bem atual que está em alta no Rio de Janeiro. Quero falar sobre a proposta do Parque do Porto, divulgada recentemente pelo prefeito Eduardo Paes e amplamente replicada nas redes sociais. Segundo a prefeitura, esse parque deverá ser instalado sobre as águas da Baía de Guanabara, na zona portuária, e incluirá um novo píer para navios, além de diversos equipamentos de lazer. Neste pequeno texto, não entrarei no mérito de que a proposta de um parque flutuante na Baía de Guanabara levanta diversas questões de sustentabilidade, engenharia, custos etc., mas gostaria de refletir com os leitores sobre se precisamos de mais parques ou praças para a cidade.
Partindo do entendimento de que parques são, geralmente, áreas mais extensas com diversos equipamentos e, em alguns casos, com foco no contato com a natureza e em atividades recreativas variadas, enquanto praças são espaços menores, com locais de convivência e inseridos, na maioria das vezes, em espaços urbanos consolidados, podemos determinar, de forma geral, que os parques são espaços onde temos um deslocamento maior para usufruir de áreas de lazer mais amplas e com diversas atrações, onde normalmente passamos mais tempo de um dia. Já as praças são espaços próximos de onde moramos ou trabalhamos, às vezes locais onde há apenas um banco e uma árvore, onde podemos sentar um pouco, tomar um sorvete e relaxar por um tempo curto. As praças, no meu imaginário, são lugares próximos aos comércios, com idosos jogando cartas e crianças usando seus brinquedos.
Então, do que precisamos mais: parques ou praças? Acredito que ambos são muito importantes para uma cidade, mas, no Rio de Janeiro, temos visto uma profusão de novos parques. Como exemplo, temos Inhoaíba e Realengo, na zona oeste, o Rita Lee, localizado no parque olímpico na região da Barra da Tijuca, na verdade uma reforma e melhoria do espaço que já existia, e o parque Piedade, na zona norte, onde existia a antiga universidade Gama Filho, este talvez o parque mais bem planejado de todos.
Por serem estruturas enormes, surge a questão: será que haverá verba para manter todos esses parques? Claro que eles têm um impacto midiático, mas não deveríamos usar parte desses investimentos para reformar as praças que estão abandonadas ou, talvez, criar novas praças em áreas onde há escassez de equipamentos desse tipo, especialmente na zona norte da cidade?
Ao ver repetidamente notícias dessas novas proposições de espaços de parques, comecei a refletir sobre questões como: onde as mães levam suas crianças pequenas para tomar sol, ou os idosos, que também precisam desse tempo em lugar aberto à luz do dia? Quanto tempo essas pessoas levariam para chegar a um parque para tomar 30 minutos de sol? É claro que não iriam. Como seria a cidade se investissem nas praças de bairro? Com certeza, teríamos mais pessoas circulando nas ruas e, assim, aquele meu imaginário que comentei aqui, com crianças e idosos na praça, se realizaria. Teríamos mais vitalidade nos espaços urbanos. Talvez houvesse menos espaços de lazer nos edifícios, o que seria uma vitória da cidade e dos espaços públicos.
Entre parques e praças, eu prefiro praças!
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.