A palavra ícone provém do latim icon que é originada do termo eikón. A conotação parte do campo da semiologia, representação visual, contexto informático e, até mesmo, pintura religiosa. Ícone também pode expressar algo de destaque e que se distingue de outros, segundo dicionários. Positivamente, ícones simbolizam ideias/objetos exemplares a serem seguidos e admirados por todos.
Dentro desse panorama, principalmente, as grandes capitais possuem edificações que datam época pela sua importância em representar algo, seja o estilo arquitetônico, método construtivo, tamanho, ou, também, a capacidade de qualificar o ambiente urbano em que estão construídas.
Como exemplo dessas edificações, em São Paulo, existe o Edifício Itália, tratado na minha coluna anterior. Também, o Edifício Copan, por sua adaptabilidade no terreno, sua representatividade na arquitetura moderna brasileira e sua capacidade de concentrar cerca 5 mil pessoas morando nele. O Edifício Altino Arantes, por sua imponência perante ao eixo da avenida São João, simbolizando uma época de pujança e progresso. Conjunto Nacional, ocupando uma quadra inteira da Av. Paulista, possui conexões com fachada ativa, desde uma galeria, com todas as ruas em que faz fronteira. Entre outras tantas edificações que o jornalista Raul Juste Lores, também, explora em seu canal, São Paulo nas Alturas.
No Rio de Janeiro, o edifício A Noite, hoje abandonado, é considerado o primeiro arranha-céu do Brasil, durante muito tempo a estrutura em concreto armado mais alta da América Latina. Em Belo Horizonte, o Edifício Acaiaca demarca com sua fachada, no alinhamento, as ruas com que faz divisa, tornando-se um eixo visual para aquele ponto da Av. Afonso Pena. O Conjunto JK e a sua incrível permeabilidade na calçada projetada por Niemeyer onde vivem em torno de 5 mil pessoas nos dois prédios do conjunto.
Curitiba possui mais de 70 edifícios com mais de 80 metros de altura, entre eles o Eduardo VII, alto, esbelto e que, nas divisas, ocupa praticamente todo o lote em que foi construído. Outro caso, aproveitando quase 100% do terreno, é o Edifício Manoel Pinto da Silva, em Belém do Pará. Os 26 pavimentos na esquina enfatizam a monumentalidade do “arranha-céu da Amazônia”, sem esquecer de dialogar com as demais ao baixar a altura nas extremidades laterais.
Em Porto Alegre, o Sulacap estabelece alturas diferentes em sua volumetria para se adaptar e se contextualizar com as edificações lindeiras, além de criar uma galeria de lojas em frente à Av. Borges de Medeiros. O Edifício Santa Cruz, primeiro em estrutura metálica, é há 60 anos o mais alto da capital gaúcha com 32 pavimentos, mesclando o uso de escritório com o residencial.
Entre esses edifícios e tantos outros do Brasil afora, o que há em comum?
Todos são queridos entre a população. São edificações que as pessoas, além de suas arquiteturas, enxergam como exemplos por qualificar a urbanidade local. Seja pela paisagem, ao compor ou criar novos visuais para a cidade. Seja ao nível do pedestre, por possuírem fachadas ativas com lojas e galerias. Além do mais, por concentrarem grandes números de pessoas em moradias ou trabalhos.
Esses edifícios transformam, positivamente, o local onde estão. E sabem o que mais há em comum entre eles? Nenhum pode ser construído novamente com os regulamentos urbanísticos atuais que legislam as nossas cidades.
Em época de revisões de planos diretores, como podemos discutir a qualificação do espaço urbano se nós mesmos não permitimos as edificações que foram capazes a tal não possam mais serem construídas?
A lógica de implementação das regras dos Planos Diretores precisa ser mudada. Um ponto é passar a permitir novamente edificações de altos potenciais construtivos, sem regras rígidas, para que, de fato, haja concentração de pessoas. Enquanto isso não acontecer, há cada dez anos haverão discussões intermináveis que não levarão a lugar algum, pois estaremos andando em círculos.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.