Os centros das favelas

29 de setembro de 2023

“Eu não quero ter que me deslocar até a Paulista aos domingos, para dizer que posso acessar uma área de lazer e cultural, sendo que os custos para chegar e estar com meus filhos são altos, sendo que há poucas pessoas como eu no local, os muros visíveis existem, mas os invisíveis também que nos impossibilita de frequentarmos determinados espaços.” — Galo de Luta

Os centros das favelas são o coração da comunidade, geralmente contêm uma mistura de espaços residenciais, comerciais e comunitários, com a parte comercial no térreo e habitação nos demais andares constituindo-se preponderantemente de comércio varejista de roupas, lojas de doces, frutas, pães, pizzarias, pequenos mercados e salões de beleza. 

As atividades comerciais nos centros das favelas são vibrantes e diversificadas, abrangendo desde pequenas lojas e vendedores ambulantes até mercados locais. Esses negócios atendem boa parte das necessidades dos moradores, oferecendo bens e serviços como alimentos, roupas, a famosa comida de rua, utensílios domésticos básicos, móveis, entre outros.

Os espaços comuns nos centros das favelas podem incluir áreas para reuniões sociais, como praças, na maioria das vezes na própria rua de forma improvisada, onde os moradores podem se encontrar, brincar e interagir. Algumas favelas também possuem centros comunitários ou centros culturais que servem como centros para programas educacionais, artísticos e atividades recreativas.

A infraestrutura é muitas vezes rudimentar, com acesso limitado aos serviços básicos. Vielas estreitas e sinuosas são comuns e o transporte dentro dos centros é normalmente facilitado por caminhadas ou motocicletas, já que os veículos maiores podem ter dificuldade para circular nos espaços apertados.

Apesar dos desafios, os centros das favelas podem ser lugares com um forte sentido de identidade e resiliência. Muitos moradores trabalham ativamente em conjunto para melhorar as suas condições de vida e buscam resolver os problemas com as próprias mãos para fazer mudanças positivas em seu território, desde melhorar o ambiente físico até a segurança, além de defenderem melhores infraestruturas, serviços e oportunidades nas suas comunidades.

Os centros das favelas precisam ser enxergados como áreas estratégicas e de alternativas para o planejamento urbano. Os moradores estão cansados de ter que percorrer longas distâncias para chegar ao centro das cidades em busca de serviços, oportunidades e comodidades básicas.

Transformar, potencializar, recuperar as áreas centrais das favelas, pode estimular significativamente o crescimento econômico local, o desenvolvimento comunitário, criar espaços públicos inclusivos e respeitar a cultura existente.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Arquiteta e ativista urbana, pós graduada em urbanismo social e habitação e cidade, mestre em Projeto, Produção e Gestão do Espaço Urbano, Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo, atua com a gestão de projetos e ações sociais em territórios periféricos no Instituto Fazendinhando.
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