Em dezembro de 2024, o meu livro, “O Rio de Janeiro nas Alturas“, escrito com meu pai, David Cardeman, completa 20 anos. Para comemorar essa data, resolvi, nesta coluna, falar um pouco sobre a experiência. Poucos sabem como surgiu a ideia de escrever o livro. Mas foi assim: em 2004, em um momento de pouco trabalho para os arquitetos, algo comum em nossa profissão, meu pai disse: “Queria escrever um livro, mas só faria se você fosse coautor dele”.
Mas sobre o que íamos escrever? Nunca imaginei me dedicar à escrita, e mal sabia que isso seria o início de minha trajetória acadêmica e de colunista sobre urbanismo. Eu gostava de fazer projetos de arquitetura e achava que pouco olhava para a cidade e para o urbanismo. Porém, isso não era verdade. Cresci acompanhando meu pai em visitas a campo. Ele costumava fazer isso quando tinha que escrever um decreto que alteraria algum parâmetro ou zoneamento. Nessas visitas, meu pai fazia uma brincadeira: observar alguns edifícios e determinar qual legislação edilícia se aplicava e em qual época aquele prédio foi feito. Naquele tempo eu não percebia, mas a paisagem da cidade do Rio de Janeiro, até pouco tempo atrás, antes das diversas leis de “mais-valia”, era construída como um espelho exato de suas leis e decretos. Portanto, era muito fácil identificá-los em nossas visitas e brincadeiras. Comecei a acertar mais do que errar.
Então, em março de 2004, estava decidido: iríamos falar sobre isso, como a cidade transformou seu espaço urbano com base em leis edilícias. Primeiro, conversamos muito com nosso editor Zyg, da Editora Mauad; ele tinha muita experiência e nos orientou bastante no processo. Após isso, chamamos o jornalista Pedro Mello e Souza para nos ajudar. Pedro era um entusiasta da história do Rio. Ele nos ajudou a quebrar a escrita dura e formal que tínhamos, por ter a prática de trabalhar com textos de leis. Ele e meu pai ficaram horas conversando sobre a história e curiosidades da cidade. Trabalhamos intensamente nas semanas e meses seguintes.
Paralelamente à parte textual, fomos caminhar e fotografar as 13 regiões que faziam parte do livro. Contratamos o fotógrafo Beto Felício, que fez um excelente trabalho de registro em preto e branco dos edifícios que iriam compor os capítulos. Iniciei um trabalho de desenhar as fachadas padrões representativas de cada lei ou decreto, que compuseram uma cronologia, em cada capítulo, da evolução das alturas dos edifícios. Nessa tarefa, o arquiteto André Alvarenga me auxiliou nos desenhos dos casarios mais antigos, pois ele também era apaixonado por isso.
Após nove meses, em 2 de dezembro de 2004, estávamos lançando o livro em uma noite de autógrafos. Não só foi a oportunidade de escrever algo que considero de grande relevância para conhecer a cidade, mas principalmente por ter feito isso com meu pai. Poucas pessoas têm essa oportunidade, e eu tive, realizando com muita satisfação.
Oito dias depois, nasceu meu filho Bruno. Esse deu mais trabalho que o livro.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.