Recentemente estive na Espanha, mais especificamente na cidade de Madri. Sempre que viajo — seja para cidades europeias ou brasileiras — gosto de caminhar pelas ruas e, principalmente, tirar fotos no meio do passeio. Faço isso desde o tempo do meu mestrado, quando estudava a relação entre a largura das ruas e a altura dos edifícios em diferentes cidades, comparando-as com o perfil urbano de Copacabana. O objetivo era, com base em autores especializados, entender qual seria a melhor proporção entre esses dois elementos e depois analisar como isso se refletia na realidade de Copa.
Independentemente dos resultados, que exigiriam muitas páginas para detalhar — e que estão registrados no meu livro sobre o tema —, o que quero compartilhar aqui são as impressões mais recentes, especialmente sobre Madri.
Em termos de relação rua x edificação, percebo que Madri tem prédios mais baixos do que a maioria das grandes cidades brasileiras. Isso pode ser em parte explicado, por exemplo, pelo tamanho relativamente menor da população da cidade em comparação com as nossas metrópoles. No entanto, há um aspecto que considero muito mais relevante: os edifícios em Madri, em sua maioria, são construídos lado a lado, sem afastamentos entre si. Isso cria uma continuidade na forma urbana das quadras, conferindo-lhes uma coesão e uma qualidade espacial muito marcantes.
Esse tipo de conformação ainda pode ser encontrado em bairros mais antigos do Rio de Janeiro ou nas áreas centrais de várias cidades brasileiras. No Rio, uma explicação é o tamanho do lote, que foi tema da minha coluna em agosto de 2024. No entanto, nos bairros mais recentes — e principalmente nos novos empreendimentos — é comum vermos os edifícios totalmente recuados das divisas, implantados no chamado “centro de terreno”, cercados por grades ou dentro de condomínios fechados, como é o caso emblemático da Barra da Tijuca.
Concordemos: caminhar por ruas com esse tipo de configuração não é agradável. Muitas vezes, é preciso andar bastante até encontrar uma loja ou um prédio com fachada ativa encostada na calçada. E você, leitor, que talvez esteja se lembrando de um trajeto assim, sabe como é um alívio encontrar uma pequena loja aberta pelo caminho.
Como esse modelo urbano parece persistir na nossa arquitetura contemporânea, talvez uma boa estratégia fosse incentivar o surgimento de pequenos comércios no térreo desses condomínios, diretamente voltados para a calçada. Eles poderiam até fazer parte do mesmo edifício residencial, rompendo com o tradicional recuo frontal obrigatório. Essa ideia se aproxima do conceito de “fachadas ativas” — mas diferentemente das versões recuadas e gradeadas que muitas vezes encontramos por aqui, elas precisariam ser, de fato, acessíveis e conectadas à rua.
Para encerrar esta coluna, gostaria de destacar algo que sempre me impressiona nessas viagens: a qualidade das calçadas. Em Madri elas são, em sua maioria, bem conservadas, limpas e com largura adequada para o fluxo de pedestres. É algo que chama atenção — e que infelizmente ainda é raro nas nossas cidades. A precariedade das calçadas, além de desvalorizar os bairros, costuma gerar sérios problemas de mobilidade, especialmente para idosos, pessoas com deficiência e até mesmo para quem simplesmente deseja caminhar com conforto.
Madri nos mostra que é possível criar uma cidade mais caminhável, vibrante e acolhedora. Cabe a nós aprender com esses exemplos e repensar os caminhos que nossas cidades estão tomando.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.