Na oportunidade das eleições municipais, aproveitando a predisposição dos inquietos ou dos idealistas, ou simplesmente daqueles apaixonados por suas cidades, acredito que seja oportuna a seguinte questão: – Por que é tão difícil de serem realizadas e perpetuadas ações tão vitais à qualidade de vida em nossas cidades?
São muitos os bons projetos apresentados em planos de governo de diferentes partidos políticos ao longo de décadas. E outros tantos importantes projetos, programas e ações que foram realizados e lamentavelmente desmobilizados ao longo do tempo…
A respeito de programas implementados por uma administração pública e descontinuados por outras, conseguimos recorrente e lamentavelmente desvendar seus motivos naturalmente relacionados à associação do vínculo partidário com a assinatura autoral de tais realizações.
No entanto, mais doloroso e extasiante do que esse conhecido ciclo é o fato de bons projetos não alcançarem plenitude em sua realização pela simples falta de integração e boa governança dentro do próprio time interdisciplinar de uma administração pública.
Em outras palavras, tentando exemplificar essa situação, não é difícil deparar-se com desafios relacionados à projetos de requalificação de espaços urbanos, como por exemplo a requalificação, regularização fundiária de favelas e sua integração no território da cidade, onde determinadas decisões frente à desafios urbanos complexos são tomadas de forma independente e desarticulada entre as pastas da administração pública. Verde e meio ambiente, por exemplo, mobilidade, urbanismo, patrimônio cultural, infraestrutura urbana e outras tantas, muitas vezes nem sequer são consultadas, inviabilizando a conquista de um resultado sólido, financeiramente consistente e integrado pautado pelas diferentes disciplinas que compõem e devem compor, claro, a realidade urbana.
Assuntos complexos, que exigiriam articulação interdisciplinar, que deveriam ser tratados numa mesa de discussão e tomada de decisões onde todas as pastas da administração pública deveriam se manifestar, debater e negociar de forma legítima (e, por que não dizer, amorosa), não costumam ser tratados dessa forma. Decisões desarticuladas e paradoxais muitas vezes levam à falência de projetos que, se assumissem metodologia de trabalho pautado numa cultura de integração isonômica das pastas e na busca efetiva de negociações e alinhamentos comuns, enfrentando o contraditório, poderiam resultar na realização consistente de bons projetos para as cidades e para a sociedade.
Mas negociar, e ainda mais, amorosamente, a respeito do que e para que? Evidentemente, em prol de uma causa de interesse público. É aqui que mora a condição primordial da negociação amorosa! Ou seja, em prol de projetos de interesse do Estado que, a partir dessa condição, tendo como premissa o sucesso de sua realização, deveriam adotar metodologia de trabalho produtiva e integradora onde as diferenças naturais de cuidados requeridas por cada uma das pastas deveriam participar de um rol de negociações saudáveis visando ao final o aprimoramento de um projeto a ser entregue para o bem da cidade.
Para isso, em primeiro lugar, há que se dizer que precisamos desejar, propor e reconhecer bons projetos de interesse público. Em segundo lugar, precisamos ter o objetivo comum de fazer tudo o que for necessário para, sociedade e poder público, através da integração de suas inteligências plurais, garantir e qualificar a realização desses projetos. Em terceiro lugar, o que me parece ser ao mesmo tempo mais simples e mais difícil de se realizar, é revisitar as estruturas de poder da administração pública para que o todo seja maior que a parte. Para que a conquista do interesse público seja o motivador das ações governamentais e, para tanto, que se faça necessária e primordial uma cultura de integração das inteligências e, portanto, dos poderes administrativos representados por cada uma das secretarias que compõem o Poder Executivo.
Mas afinal… queremos poder ou a integração de todas as coisas?
Saudações Polifônicas!
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.