O papel das arquitetas no mercado imobiliário: um olhar sobre a incorporação
7 de setembro de 2023Recentemente ouvi um podcast sobre arquitetas incorporadoras aqui no Caos Planejado e me levou a refletir sobre o tema.
No cenário do mercado imobiliário, a presença de arquitetos que também atuam como incorporadores é uma espécie rara. Essa dualidade de habilidades traz consigo um profundo entendimento tanto da criação arquitetônica quanto da gestão de projetos imobiliários. No entanto, é intrigante como o termo “incorporador” muitas vezes carrega conotações pejorativas entre arquitetos, apesar da natureza intrinsecamente arquitetônica do trabalho desempenhado pelos incorporadores.
Ao analisarmos essa dinâmica, é importante reconhecer a complexidade do processo de incorporação. Tradicionalmente, incorporadores são encarregados de gerenciar todo o ciclo de vida de um empreendimento imobiliário, desde a aquisição do terreno até a venda das unidades. No entanto, a realização dessas atividades requer uma sólida compreensão das questões arquitetônicas, urbanísticas, legais, financeiras e de mercado. Em muitos aspectos, a incorporação é, em si mesma, um processo arquitetônico.
A resistência em relação ao termo “incorporador” entre arquitetos pode se originar do desejo de manter uma distinção entre a criatividade artística da arquitetura e a natureza comercial da incorporação.
No entanto, essa distinção não deve obscurecer o fato de que ambos os papéis são essenciais para a criação de espaços construídos funcionais e inspiradores.
Arquitetos que se aventuram no mercado imobiliário estão, de certa forma, unindo essas duas dimensões para moldar o ambiente construído de maneira holística.
Na história da arquitetura brasileira, São Paulo dos anos 60 foi um período marcado por arquitetos que também assumiram o papel de incorporadores. Nomes como Vilanova Artigas criaram um legado de projetos arquitetônicos e empreendimentos imobiliários que refletiam sua visão artística e compromisso com o ambiente urbano. Seus trabalhos foram testemunho de como a interseção entre arquitetura e incorporação pode resultar em contribuições significativas para o tecido urbano.
No entanto, a realidade contemporânea tem visto uma maior separação entre as disciplinas da arquitetura e da incorporação. Será?
A busca por especialização muitas vezes leva a uma fragmentação dos diferentes aspectos envolvidos na criação de empreendimentos imobiliários. No entanto, como a consciência ambiental, a busca por espaços sustentáveis e a necessidade de um planejamento urbano mais inteligente ganham destaque, é possível que vejamos um ressurgimento do papel do arquiteto incorporador.
Na minha jornada, tenho procurado explorar tanto a criação arquitetônica e urbanística quanto a incorporação, reforçando um compromisso com uma visão mais ampla da construção do ambiente construído.
A busca por sinergia entre o design e a gestão de projetos imobiliários pode eventualmente levar a um equilíbrio mais saudável entre a criatividade artística e a viabilidade comercial.
Em última análise, a reunião das funções de arquiteto e incorporador não é apenas uma possibilidade viável, mas também um caminho para a criação de empreendimentos que transcendem a mediocridade e incorporam a visão e a paixão do profissional que os concebeu.
Se a era dos arquitetos incorporadores retornará como na São Paulo dos anos 60, só o tempo dirá. No entanto, a busca pela harmonia entre esses dois papéis é uma trajetória que merece ser explorada em busca de um ambiente construído mais inspirador e sustentável.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.