O mundo dá voltas e a cidade nos mostra seus/nossos caminhos

16 de fevereiro de 2023

Escrevo estas linhas e relembro claramente o momento em que, aos dez anos de idade, um jornal local apresentava reportagem sobre algum problema na aprovação de um edifício de apartamentos. Neste exato momento soube que queria aquele problema para mim: projetar prédios.

E cursei arquitetura e urbanismo. E não me interessei pelos prédios, mas a cidade continuava a me fascinar. E me descobri urbanista quando estagiei em um escritório local e tive a oportunidade de trabalhar em quinze planos diretores municipais. O melhor desta experiência? Estar em cada cidade, ouvir prefeitos, vereadores, as pessoas… E aí entendi, na prática, como é simples fazer cidade para pessoas.

E fiz mestrado sobre planejamento e gestão urbanos. E doutorado sobre financiamento de cidades. O solo é o principal ativo de uma cidade, portanto precisamos ver a cidade como um bom investimento. Os instrumentos financiadores do desenvolvimento urbano são fontes de receita para uma cidade justa — paga quem utiliza.

E nas voltas que o mundo dá, atuei como Secretária Municipal do Urbanismo e Meio Ambiente em Fortaleza, onde planejar e controlar (licenciar/monitorar) o urbanismo e o meio ambiente eram nossa atividade. Revisamos as legislações ambientais e de uso e ocupação do solo — simplicidade, justiça social e gestão democrática podem e devem gerar negócios e é isso que ordena uma cidade; modernizamos nosso código de obras e posturas inovando com o código da cidade (incluindo o viés ambiental e a relação da cidade com a sociedade); implantamos mecanismos inovadores de arranjos público-privados e incentivos à dinamização de áreas vocacionadas na cidade; realizamos políticas de enfrentamento às mudanças climáticas.

Lembram do problema na aprovação do Prédio, quando lia o jornal, aos dez anos? Criamos e implantamos o Fortaleza Online, plataforma automatizada de licenciamento declaratório, expedido de forma imediata para toda a cidade, em qualquer porte. Inovação, transformação digital e governança, onde o cliente sempre foi o foco.

Nos dois últimos anos fomos construir prédios. Estar CEO de uma construtora local, que tem como pilares a qualidade, a sustentabilidade e a credibilidade foi uma das melhores experiências. O mercado imobiliário sempre será um aliado da cidade. Mas a cidade chamava e o desafio de levar saneamento básico às comunidades mais simples leva a perceber que nossa vontade foi sempre resolver problemas. E o melhor, resolver problemas que transformem à vida das pessoas.

Não posso encerrar este momento sem homenagear homens inspiradores que, em tempos diferentes, me trouxeram até aqui. Meu pai, um executivo do mercado financeiro que, aos finais de semana, na década de 1980, nos levava para desbravar e conhecer nossa Fortaleza e nosso Ceará (uma aventura); o professor Romeu Duarte, que nos mostrou que cidade se faz fora do escritório; os arquitetos Fausto Nilo, Airton Montenegro e Francisco Hissa; e meu tio Adolfo Marinho, que até hoje nos ensina que cidade sempre foi para as pessoas — cidade é morar, trabalhar, divertir, empreender, investir, viver.

Como leitora e entusiasta desde seu início, o Caos Planejado para além de arquitetos e urbanistas, destina-se aos fascinados por cidade. Estou honrada em participar deste momento. Tentaremos aqui abordar a cidade pelos diversos temas aqui delineados e vividos. Que nós, colunistas, façamos valer o convite e o desafio de estar falando de cidade para a leitora/leitor de forma simples, apaixonada e, sobretudo, vivenciada.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Doutora em Urbanização e Políticas Públicas. Atuante nas áreas de Planejamento, Gestão e Governança corporativa e em cidades, na Academia e na Administração Pública. ([email protected])
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