No dia 10 de maio de 2025, foi lançado em Balneário Camboriú aquele que promete se tornar o maior edifício residencial do mundo, o Senna Tower. Com mais de 500m de altura, o arranha-céu não apenas redesenha o skyline da cidade catarinense – ele marca um novo capítulo para o urbanismo, a engenharia e a ambição construtiva no Brasil. Não poderia deixar de abordar esse assunto aqui no Caos Planejado, não apenas por sua imponência estrutural, mas pelo simbolismo urbano que carrega.
É preciso reconhecer: erguer um edifício dessa magnitude, tão próximo à linha da praia, é um feito notável. Não apenas pelo desafio técnico e estrutural envolvido, mas porque isso acontece no Brasil – um país onde frequentemente o discurso urbano hesita entre o desejo de adensamento e o apego a modelos urbanos dispersos. Na imensa maioria das cidades brasileiras, para que um edifício alcance tamanha volumetria, seriam exigidos terrenos gigantes e uma estrutura regulatória disposta a aceitá-lo. Balneário Camboriú, por sua lógica verticalizante consolidada, dispensa essas condicionantes – e o Senna Tower é a mais recente comprovação dessa lógica.
Não se trata de um juízo absoluto – de celebração ou condenação –, mas da constatação de que o projeto revela uma lógica de ocupação do solo pouco comum no urbanismo brasileiro. A possibilidade de compatibilizar um terreno relativamente compacto com uma estrutura de escala monumental desafia muitos dos paradigmas normativos que ainda dominam os planos diretores pelo país. Nesse sentido, o Senna Tower também é um marco do planejamento urbano.
É verdade que o edifício parece não carregar aquela essência arquitetônica de outras produções contemporâneas brasileiras, como o AGE 360, em Curitiba. Mas o que lhe falta em brasilidade sobra em simbolismo técnico e urbano. O Senna Tower aparenta incorporar soluções de engenharia ainda não vistas em solo brasileiro, além de possuir, em todos os seus lados, aquele termo que costuma cativar arquitetos e urbanistas: fachada ativa.
Ainda que monumental, busca dialogar com a escala da praia e do pedestre em seus primeiros pavimentos. Há ali um esforço de conexão com o espaço urbano, mesmo que em contraste com sua altura extrema.
E para o bem ou para o mal, todos os mais altos arranha-céus do mundo compartilham uma característica: a pele de vidro. Esse elemento estético e funcional tem sido amplamente adotado em construções que desafiam os limites verticais em todos os continentes. O Senna Tower segue essa tendência, infelizmente ou não.
Sim, o edifício altera significativamente o skyline de Balneário Camboriú. Mas quebrar recordes e paradigmas é parte constitutiva da identidade da cidade. Sempre haverá críticos, como sempre houve. Balneário é, e continuará sendo, um território de antagonismos. Uns a vêem como símbolo de desequilíbrios, de descompassos urbanísticos; outros, como vitrine de um bom urbanismo vertical.
O Senna Tower, nesse sentido, não é exceção – é síntese. Síntese das contradições, ambições e virtudes que marcam o Brasil urbano contemporâneo. Talvez excessivo, talvez inevitável. Talvez um exagero – ou, quem sabe, apenas coerente com a cidade que o abrigará. Goste-se ou não, será difícil ignorá-lo. E se todo marco carrega consigo uma dose de polêmica, o Senna Tower, ao querer tocar o céu, nos força a olhar de novo para o chão. E pensar sobre onde e como, de fato, estamos construindo.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.