Foi lançado recentemente o livro “Density and Resiliency Across the Americas“, uma coletânea internacional organizada pelo Council on Tall Buildings and Urban Habitat (CTBUH), com artigos selecionados a partir da conferência regional das Américas realizada em Miami em 2024. A publicação reúne visões diversas sobre o futuro das cidades, com foco em como os países americanos têm explorado novas estratégias para conciliar densidade urbana e resiliência ambiental, social e institucional.
O livro parte de uma provocação fundamental: será possível densificar sem destruir? Ao longo de mais de 200 páginas, diferentes autores – de arquitetos a gestores públicos – respondem a essa pergunta por meio de estudos de caso e reflexões críticas. Há um esforço coletivo em superar a visão simplista que equipara edifícios altos a um problema urbano em si.
É nesse contexto que se insere o artigo “Urban Plan for Bixiga: Volumetric Simulation Based on Performance Guidelines for Tall Buildings”, desenvolvido a partir da minha pesquisa de doutorado. O texto apresenta uma alternativa ao tradicional zoneamento urbano, propondo a adoção de diretrizes de desempenho para orientar a forma e a ocupação dos edifícios. Em vez de fixar alturas, afastamentos e coeficientes de aproveitamento de maneira genérica, a proposta considera critérios visuais, contextuais e ambientais.
O caso de estudo, como o próprio título já diz, é a região do Bixiga, em São Paulo – um território central, denso e atravessado por camadas de proteção histórica. Por meio de simulações tridimensionais, o artigo compara o potencial construtivo previsto na legislação atual com os cenários possíveis sob diretrizes de desempenho. O estudo mostra que é possível construir mais interferindo menos: volumes verticais, bem posicionados, que respeitam o entorno e promovem melhor qualidade ambiental urbana.
Ao lado desse estudo, o livro apresenta experiências inspiradoras de outras cidades. Toronto, por exemplo, é representada por projetos que aliam uso misto e requalificação do espaço público, como no caso do complexo The Well. Em Monterrey, no México, o destaque vai para o projeto Libertad HO, que articula densidade com infraestrutura verde e inclusão social. Já em Buenos Aires, a prefeitura compartilha sua estratégia de transformação urbana pautada em arquitetura pública e antropologia urbana, em uma tentativa de devolver centralidade aos espaços públicos como lugares de pertencimento.
Outro destaque da coletânea é o artigo sobre a estratégia das “Vizinhanças Solares” na América Latina – uma proposta que integra sustentabilidade energética com urbanismo de proximidade. Em comum, todos os textos apontam para a necessidade de abordagens interdisciplinares, capazes de conciliar crescimento urbano com qualidade de vida e equidade territorial.
A presença nesse livro é também um convite ao debate: como atualizar nossos instrumentos urbanísticos frente aos desafios do século 21? Qual o lugar dos arranha-céus em cidade marcadas pela história? E sobretudo, como conciliar densidade urbana com bem-estar e qualidade dos espaços públicos?
Não haverá respostas únicas para os dilemas da densidade urbana. Mas há caminhos possíveis – e todos passam por metodologias mais abertas, que combinam análise crítica, ferramentas digitais, escuta pública e visão estratégica. Pensar em diretrizes, mais do que em regras, é um passo decisivo para dar forma a cidades mais coerentes com os desafios do nosso tempo.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.