O impacto da regulação urbana na produção de imóveis compactos em São Paulo
13 de maio de 2023Um levantamento recente da Brain Inteligência Estratégica divulgado no Estadão indicou que, de janeiro de 2019 a janeiro de 2023, 98.500 imóveis compactos foram lançados na cidade de São Paulo.
O crescimento na produção desta tipologia encontra-se entre os principais impactos regulatórios do atual Plano Diretor do município, principalmente devido às disposições da denominada Cota Parte Máxima, instrumento que determina a quantidade mínima de unidades habitacionais segundo a área do terreno, o que, aliado ao limitado coeficiente de aproveitamento máximo, resultou na criação de studios para compensar a demanda por imóveis maiores.
Além da Cota Parte Máxima, há uma sucessão de fatores que contribuíram para a produção das unidades compactas: o limite de isenção de outorga onerosa de uma vaga de garagem por unidade habitacional influiu no remanejamento que leva unidades pequenas a serem lançadas para que uma maior no mesmo prédio receba a vaga isenta.
Além disso, o incentivo previsto ao uso misto (usos comerciais e residenciais) nas novas construções, um dos principais aspectos do Plano Diretor para possibilitar a diversidade de emprego e habitação nos bairros, vem sendo utilizado pelos studios licenciados como serviço de moradia, uma atividade comercial, mas que não resulta na atração de empregos para novos locais.
Idem para a conformidade aos critérios de enquadramento das unidades para recebimentos dos incentivos destinados à produção de habitação de interesse social, cuja pequena área útil passa a ser crucial para não ultrapassar o limite de valor e renda da categoria.
O volume de construções chama a atenção não apenas pela quantidade, mas também em razão das próprias diretrizes do atual Plano Diretor, o qual, ao induzir esse desenvolvimento aos chamados eixos de estruturação da transformação urbana (as regiões no entorno dos equipamentos de transporte coletivo), concentra os impactos — que podem ser concomitantemente positivos e negativos — em um perímetro territorial menor.
Por outro lado, ao meu ver, a posição crítica que afirma serem unidades majoritariamente destinadas a plataformas de aluguel de curta duração, como o Airbnb, precipita-se a superveniência de estatísticas para corroborar a afirmação e pode estigmatizar a discussão sobre unidades de pequeno porte que possam vir a ser úteis ao atendimento de parte da demanda habitacional, inclusive a social, do município.
Ainda, as alterações no Plano Diretor e zoneamento paulistanos coincidiram com um ciclo de redução dos juros no Brasil, o que pode ter auxiliado a oferta de capital ser direcionada a investimentos em imóveis, bem como condições mais favoráveis a quem buscou adquirir um imóvel para sua futura moradia. Isso igualmente explica o fato de a quantidade de studios lançados também terem crescido em outras capitais, como Porto Alegre, Curitiba e Salvador.
Pode ser que o atual processo de produção de unidades de um dormitório em algumas regiões da cidade de São Paulo proporcione uma realidade diferente da encontrada no Censo de 2010, quando, após a subprefeitura da Sé na região central como primeira colocada, as subprefeituras com maior proporção em relação ao total de domicílios no território eram a do M’Boi Mirim, Parelheiros, Cidade Ademar, Guaianases e Perus — sem grande preocupação com o tamanho das unidades ou se elas atentariam contra o perfil do bairro.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.