Muda a cidade e o problema é o mesmo

3 de abril de 2024

Estou voltando a escrever depois de um curto período – duas colunas puladas – de foco total no doutorado. Nesse tempo, fui chamado para responder algumas perguntas sobre a verticalização de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, para TV Morena, afiliada da Rede Globo na região.

Os moradores da cidade têm questionado o aparecimento de edifícios altos em diversos bairros residenciais. Eles alegam que as novas construções estão descaracterizando bairros como Vilas Boas, Chácara Cachoeira, Itanhangá Park e Rita Vieira, consolidados por casas de até 2 andares. 

Entre as reclamações estão a perda da privacidade, aumento de congestionamentos, saturação da infraestrutura, impermeabilização do solo, entre outras questões. Em muitos casos, as discussões estão seguindo para batalhas judiciais entre associações de bairros e incorporadores que buscam investir nessas regiões.

A problemática começou a se suceder em 2018, quando Campo Grande revisou seu Plano Diretor e flexibilizou a construção de edifícios altos em diversas regiões da cidade, com o aumento do potencial construtivo.

Os questionamentos que surgiram nesse processo pelo qual a capital de Mato Grosso do Sul está passando nos dias atuais não é exatamente uma novidade. Qual cidade grande do Brasil não passou por situações semelhantes no seu processo de verticalização?

Em algumas colunas do ano passado, argumentei sobre esse efeito: enquanto os coeficientes de aproveitamento continuarem iguais e/ou semelhantes ao longo do território da cidade, não importa qual, o processo de verticalização continuará se espalhando num “pipocar” de edifícios em meio a casas.

O problema não é a flexibilização de regras em si, mas a maneira em que o “flexibilizar” é planejado. É preciso concentrar os edifícios, principalmente os mais altos. Os bairros que usufruem de abundante serviço e mobilidade, por exemplo, devem possuir potenciais construtivos muito maiores que as demais regiões. Ou, até mesmo, nem possuir, deixar as construções se adequarem pela demanda. 

Claro, alguns critérios precisam ser seguidos como iluminação e ventilação, por exemplo. O munícipio deve fazer seu trabalho num acompanhamento minucioso de dados regularmente, ou seja, a cada lançamento imobiliário e não a cada 5 ou 10 anos.

Porém, atenção! O processo de transformação é algo normal e natural numa cidade. Precisa “apenas” de um planejamento que realize a prática de maneira coerente.

Hoje, os moradores de bairros ainda horizontais, perto de regiões já saturadas – lotes já ocupados – pela verticalização precisam se acostumar com o processo natural de transformação de uma cidade. Pois, se alegam que quando construíram suas casas o local possuía chácaras, por exemplo, eles próprios já iniciaram um processo de mudança da ambiência natural do local.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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