Mobilidade urbana para quem?

19 de março de 2023

De acordo com o Anexo I do CTB (2017), via é a “superfície por onde transitam veículos, pessoas e animais, compreendendo a pista, a calçada, o acostamento, ilha e canteiro central”. Sua classificação, conforme o Artigo 60, leva em consideração o fim a que se destina, bem como o espaço geográfico em que se situa.

A primeira distinção refere-se ao fato de a via estar localizada em área urbana ou rural. Sendo área urbanizada, com a existência de imóveis edificados ao longo de sua extensão, a via é classificada como “via urbana” e, caso contrário, “via rural.”

Possui um importante sentido para a construção e desenvolvimento da forma urbana, compreendendo os seguintes aspectos: 

a) 1.º Aspecto – A via como correspondente do sistema de mobilidade. 

b) 2.º Aspecto – A via como lócus da vida social.

A cidade oferece, no entanto, calçadas com menos de um metro de largura ou com largura mínima, ocupadas por grande quantidade de equipamentos urbanos; porém, para uma política pública no sistema de espaços livres, o passeio público deve gerar atrativos à permanência, à possibilidade de circular pela cidade e ao convívio público.

São cidades que apresentam territórios desiguais, para quem vive nos morros das favelas a realidade é ainda pior, o caminhar, se torna cansativo e doloroso, sem acessibilidade, sem mecanismos que facilite a mobilidade e integração dos espaços com equipamentos e transporte público.

Cresci observando mulheres carregando em suas costas ou levando em cima de suas cabeças sacos pesados com alimento, do trabalho aos seus lares, percorrendo um caminho difícil, às vezes estreitos, sem iluminação pública, com ladeiras que apresentam um declive acentuado.

Em um cenário também muito similar, percebi as dificuldades que muitos ajudantes de pedreiro encontram ao transportar materiais de construção civil nos pontos mais altos das favelas, lugares em que a ocupação espontânea se deu, geralmente em área ambientalmente frágil, devido à ausência de políticas públicas de moradia.

As vielas, as vezes em forma de escadarias, encontram-se, com frequência, em locais muito acidentados, difíceis de serem vencidos por outro tipo de locomoção e são, sem exceção, muito estreitas. Quando estão presentes, as calçadas são disputadas pelo comércio ambulante, pelos veículos e algumas delas não são continuas.

Em alguns países, como por exemplo na Comuna 13 em Medellín, Colômbia é perceptível notar a construção de espaços mais acolhedores e acessíveis a partir da instalação de escadas rolantes nos morros, a fim de diminuir o trajeto, incluir o idoso, a mãe com criança e facilitar a rotina de quem mora na favela.

O Parc de Montijuic, maior área de lazer em Barcelona, ocupa uma colina de 213 metros de altura, oferecendo belas vistas da cidade e diferentes opções de atividades, entre museus, galerias, comércios e parques, recebeu a instalação de escadas rolantes ao ar livre, que auxilia o percurso dos visitantes e comprova mais uma vez a eficiência dessas instalações.

Hoje o desafio é projetar na cidade existente, é intervir em espaços já consolidados, principalmente precários e incorporar o acesso adequado a mobilidade urbana sustentável, com malhas de conexões que facilite o caminhar, que diminua a construção de muros, que permita novas intervenções para as vielas e o traçado viário; e por que não inovar, trazer a tecnologia como uma das alternativas para essa transformação?

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Arquiteta e ativista urbana, pós graduada em urbanismo social e habitação e cidade, mestre em Projeto, Produção e Gestão do Espaço Urbano, Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo, atua com a gestão de projetos e ações sociais em territórios periféricos no Instituto Fazendinhando.
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