O Brasil tem mais de 5.500 municípios, muitos deles pequenos demais para sustentar os próprios serviços. Segundo estudo recente da UFPB, a fusão de cidades com menos de 119 mil habitantes — cerca de 70% do total — poderia aumentar em 36% a capacidade dessas prefeituras de pagar suas próprias contas. A arrecadação própria cresceria, a dependência de repasses cairia e, talvez, o planejamento urbano começasse a andar de verdade.
Não faltam exemplos de municípios que nasceram de desmembramentos sucessivos, muitas vezes impulsionados por interesses políticos ou disputas locais. O resultado é uma fragmentação administrativa que engessa a gestão pública, encarece estruturas básicas e impede a articulação de soluções mínimas para transporte, saneamento, uso do solo e equipamentos urbanos. Há municípios que não têm nem hospital, nem plano diretor, nem orçamento próprio para contratar uma equipe técnica.
A discussão sobre fusão de cidades pode parecer meramente fiscal — e sim, é sobre finanças. Mas é também sobre gestão territorial. Quando municípios que já funcionam como uma mesma cidade se mantêm separados, perdem a chance de articular sistemas integrados de mobilidade, habitação, planejamento regional e oferta de serviços. Quando se juntam, ganham escala, massa crítica e um orçamento que pode finalmente permitir a construção de uma cidade com infraestrutura pública e espaços que façam sentido.
Isso não quer dizer que a fusão seja simples. Identidade local, histórias e vínculos comunitários não somem por decreto. Mas vale lembrar que a cidade contemporânea se organiza em rede, e redes pedem conexão, não isolamento. Governar territórios contínuos como se fossem mundos separados é um luxo que muitas regiões não podem mais bancar.
No fim das contas, a fusão de municípios é menos sobre apagar nomes no mapa e mais sobre fazer com que o planejamento urbano tenha alguma chance de sair do papel. Se não der conta da folha, da creche, do posto de saúde, não adianta sonhar com cidade caminhável, arborizada ou vibrante. As cidades brasileiras precisam de soluções concretas para fazer mais com o que têm. E, em alguns casos, isso pode começar por simplesmente se juntarem.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.