Mapeamento mostra que mais de 180 ruas abertas transformam cidades brasileiras em espaços de lazer
9 de setembro de 2025Já pensou em viver em um lugar onde caminhar fosse simples e seguro, sem precisar olhar para os dois lados? Uma rua onde fosse possível brincar, tomar sol e comer ao ar livre. Esse cenário pode parecer distante, mas uma vez por semana, geralmente aos domingos e feriados, ruas que normalmente pertencem aos carros se transformam em espaços de lazer e convivência para as pessoas, por meio de diferentes programas de ruas abertas.
Nos últimos meses, nós, do Instituto Caminhabilidade, mapeamos junto com outras organizações programas de Ruas Abertas em todo o país. A iniciativa integrou a Semana do Caminhar 2025, evento anual que realizamos nacionalmente, com o objetivo de celebrar a caminhabilidade e o uso coletivo dos espaços públicos.
O levantamento já identificou mais de 180 ruas abertas em todo o país, organizadas em 12 programas distribuídos por sete estados: Pará, Alagoas, Distrito Federal, Minas Gerais, Santa Catarina, São Paulo e Rio de Janeiro. São utilizados três tipos de vias: locais, avenidas ou vias expressas.

Embora essa política pública tenha se expandido nos últimos anos, iniciativas semelhantes já haviam surgido no Brasil na década de 1970, como o programa Ruas de Lazer de São Paulo, considerado o mais antigo no Brasil, segundo o levantamento. Criado em 1976 e ainda ativo após mais de 50 anos, ele é hoje administrado pela Secretaria Municipal de Esportes (SEME) e segue incentivando o uso das ruas como espaço de brincar e encontros da vizinhança.
Hoje, entre as iniciativas mais recentes está a Rua da Gente, em Benevides (PA). Criado em 2021, o projeto se diferencia ao ocupar as ruas no período noturno — das 18h às 22h —, promovendo brincadeiras e atividades com foco nas crianças e usando as ruas para fortalecer o vínculo das pessoas com a cidade.
A partir do levantamento, percebemos que nos anos 1990 houve um boom de iniciativa de ruas de lazer e abertas para as pessoas nas cidades. Isso porque nessa época o país estava se redemocratizando, saindo do período da ditadura, que punia encontros e aglomerações nos espaços públicos e que realizou muitas obras rodoviárias nas cidades. Com a redemocratização, os municípios retomaram autonomia política e financeira e o direito ao lazer, ao esporte e à cidade foi reconhecido.
Nessa época destaca-se o Eixão do Lazer, em Brasília. Criado em 1991, o programa transforma os quase 14 km dos Eixos Norte e Sul em uma imensa área de lazer todos os domingos e feriados, das 6h às 18h, há mais de 30 anos. É um dos programas de ruas abertas no país com horário mais extenso (12h) e é o mais extenso de forma contínua.
Outra iniciativa que o mapeamento ajudou a dar visibilidade foi o programa A Rua é Nossa, em Belo Horizonte (MG). O projeto abrange 16 ruas, que ficam abertas das 7h às 14h. Algumas têm foco em esporte e recreação, com atividades propostas pela prefeitura, e outras têm um uso mais espontâneo. Nas ruas com atividades propostas pelo poder público tem brinquedos infláveis temáticos, camas elásticas e espaço especial para crianças de até 6 anos.
Em Campinas (SP), o destaque é para a área escolhida para o programa Ruas de Lazer, uma rota circular ao redor de um dos principais parques da cidade, o Taquaral, que já é um polo de esporte e lazer, expandindo as possibilidades e acolhendo o desejo das pessoas. Realizada pela Empresa Municipal de Desenvolvimento de Campinas (Emdec) aos domingos e feriados, das 7h às 12h, a região conta também com uma ciclofaixa de lazer.
Para conferir todas as iniciativas é só acessar o mapa público. O mapeamento é coletivo e segue aberto para novas contribuições. Os interessados em contribuir, podem acessar o formulário online.
Com a iniciativa, esperamos ampliar ainda mais o conhecimento sobre programas de Ruas Abertas em outras cidades brasileiras, fortalecendo essa política que, em um mundo cada vez mais quente, é também estratégia de Zonas de Baixa Emissão e possibilidade de refúgios climáticos.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.