Londrina e Londres: um diálogo entre planejamento urbano e crescimento orgânico

22 de agosto de 2024

Visitar Londrina, no Paraná, pela primeira vez é uma experiência que imediatamente suscita reflexões sobre urbanismo. Ao observar o traçado ortogonal do Centro, com suas ruas perfeitamente alinhadas, não há como evitar a pergunta: “Essa cidade só pode ter sido planejada.” Londrina, fundada em 1934, é um exemplo claro de uma cidade criada com uma lógica urbanística desde o início. Mas ao refletir sobre esse planejamento, outra cidade vem à mente: Londres. Embora compartilhem o “Lon” no nome, as duas cidades têm histórias urbanas muito diferentes, que ilustram dois modos distintos de desenvolvimento urbano.

Londrina é uma cidade jovem, cuja fundação está ligada à Companhia de Terras Norte do Paraná. Desde o começo, foi projetada para ser moderna e funcional. O traçado ortogonal do Centro reflete um urbanismo planejado, onde ruas largas e quadras regulares não só facilitam o tráfego, mas também promovem uma sensação de ordem e previsibilidade. Essa estrutura permite que a cidade cresça de forma organizada, sem os problemas comuns de cidades que se desenvolvem sem planejamento.

Em Londrina, cada detalhe foi pensado para criar uma cidade eficiente e agradável. A distribuição de áreas verdes, a integração de zonas comerciais e residenciais e a infraestrutura bem planejada são frutos de um urbanismo que privilegia a funcionalidade e a qualidade de vida.

Por outro lado, Londres, com sua história que remonta a mais de dois milênios, é um exemplo de crescimento urbano orgânico. Ao contrário de Londrina, que foi planejada desde o início, Londres evoluiu de um pequeno assentamento romano às margens do rio Tâmisa para uma metrópole global. O traçado urbano de Londres é um reflexo de sua longa e complexa história, com ruas que seguem antigas trilhas e bairros que cresceram de maneira desordenada ao longo dos séculos.

O urbanismo de Londres é uma colcha de retalhos que mescla o antigo e o novo, o planejado e o improvisado. Diferente da precisão ortogonal de Londrina, o mapa de Londres revela um emaranhado de ruas sinuosas, becos e praças, resultado de um desenvolvimento que aconteceu sem uma visão unificadora. Isso cria uma cidade vibrante e cheia de contrastes, onde cada bairro tem sua própria identidade e história.

Comparar Londrina e Londres é, em última análise, comparar dois paradigmas de urbanismo. Enquanto Londrina exemplifica os benefícios de um planejamento urbano cuidadoso, Londres mostra como uma cidade pode crescer de forma orgânica, adaptando-se às necessidades e aos desafios de cada era.

Londrina, com sua lógica e ordem, oferece uma lição sobre a importância de se pensar uma cidade de maneira integral desde sua fundação. A eficiência e a funcionalidade de seu traçado urbano são um testemunho do valor do planejamento antecipado. Já Londres, com sua complexidade e diversidade, ilustra como o crescimento orgânico pode resultar em uma cidade rica em cultura, história e vitalidade, mesmo que à custa de alguma eficiência urbana.

Ambas as cidades, cada uma à sua maneira, nos ensinam sobre as múltiplas faces do urbanismo. Se Londrina é o exemplo de como construir uma cidade para o futuro, Londres é um lembrete de que o urbanismo também pode ser uma arte de adaptação, onde a história e o presente se entrelaçam para criar um tecido urbano único. Para urbanistas e entusiastas, a comparação entre essas duas cidades oferece um rico campo de reflexão sobre os diferentes caminhos que uma cidade pode seguir em sua jornada de desenvolvimento.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Arquiteta e urbansita, especialista em Gestão de Projetos e mestre em arquitetura pela UFRN. Atualmente é sócia da PSA Arquitetura em São Paulo e da PYPA Urbanismo & Desenvolvimento Urbano em Natal-RN. ([email protected])
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