Na semana passada, participei como palestrante da Conferência Internacional do Council on Tall Buildings and Urban Habitat, em Londres. Nela, tive a oportunidade de apresentar a minha pesquisa de doutorado na primeira sessão da história do CTBUH para temas específicos da América Latina. Demonstrei uma alternativa para as rígidas regras de zoneamento que moldam há 60 anos as cidades brasileiras, um caminho ligado à responsividade de novos edifícios no local de inserção, baseados em diretrizes de desempenho, e não mais às fórmulas matemáticas ligadas ao lote privado.
Com a temática New or Renew, a conferência tinha como intuito colocar em discussão o aproveitamento da cidade consolidada, em um mundo no qual o futuro são os centros urbanos. Havia, portanto, apresentações de pesquisas e estudos de caso desde a implementação de novos edifícios altos até a reutilização de edificações já existentes na busca da densificação.
A conferência iniciou com a roda de debates do CTBUH City Advocacy Forum, em que foram apresentadas as problemáticas e soluções a serem adotadas em cidades de destaques no quesito verticalização: Toronto, Londres, Cingapura, Paris e Nova York.
Na apresentação de Toronto, James Parakh demonstrou o incrível processo de verticalização que vem ocorrendo na maior cidade do Canadá e um olhar para o retrofit de edificações existentes. Porém, não apenas a reutilização por si só, e sim a reutilização do edifício existente com acréscimo volumétrico na altura, podendo-se duplicar o potencial de uso existente anteriormente.
Peter Murray comentou sobre os “cinturões” adotados na cidade sede, Londres. O cinturão cinza, local central da cidade para densificação, ou seja, zona permitida para construir o que for preciso para alcançar as metas do planejamento urbano, desde que sejam respeitadas as diretrizes colocadas. Ainda, os cinturões de transição e verde, como os próprios nomes já dizem, são os que transitam da escala da cidade para a proteção do habitat natural onde está localizada a capital da Inglaterra.
Também sobre Londres, Gwyn Richards abordou a mudança de caráter que vem ocorrendo nos últimos dez anos na cidade com a implementação de uma quantidade enorme de edifícios altos em determinados pontos, demonstrando como a concentração deles vem “refrescando” o território nos verões cada vez mais tórridos.
Na cidade queridinha de todos no evento, Cingapura, Lay Bee Yap apresentou as estratégias de planejamento de diferentes escalas envolvendo a natureza como protagonista. Domique Alba expôs a excludente Paris e uma proposta que visa colocar em discussão a implementação de clusters de edifícios altos como incremento dos típicos edifícios parisienses. Já sobre Nova York, Thomas Wright apresentou a urgente demanda de se construir mais e mais moradias na cidade dos arranha-céus.
Diversas apresentações demonstraram estudos de edifícios altos com a estrutura de madeira. Uma solução limpa, com pouca pegada de carbono e de rápida construção para a crescente demanda de novas moradias nas grandes metrópoles.
Houve também a premiação dos “Melhores Edifícios Altos” de 2024. O grande vencedor foi o edifício Pan Pacific Orchard, projetado pelo WOHA Architects, com os prêmios “Melhor Edifício Alto do Mundo” e “Melhor Edifício Alto de 100-199 metros”. Infelizmente, não havia nenhuma edificação brasileira participando.
Traçando um paralelo com o Brasil, para variar, estamos atrasados com qualquer temática abordada no evento. Parece que o nosso país está dentro de uma bolha que nem os próprios estudiosos do tema sabem sobre o processo de verticalização que ocorre aqui. Precisamos furá-la. Estamos passando pelo período de maior número de arranha-céus sendo construídos e precisamos urgentemente entender as verdadeiras demandas para esse tipo de edificação, e não deixar que seja puramente um fetiche.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.