Keep it simple, stupid!

30 de março de 2023

Edward Oakley Thorp nasceu em 1932 na esteira da grande depressão e foi pioneiro no estudo e aplicação da teoria das probabilidades, utilizada com igual sucesso tanto na gestão de fundos quanto em cassinos, demonstrando a eficiência e amplitude de suas teorias e fórmulas.

As teses de Ed Thorp baseiam-se — numa versão resumida — em mapear os riscos de uma forma que, admitindo ganhos moderados, é possível mitigar riscos, mas ganhar sempre, consistentemente.

Numa primeira olhada, suas teses parecem não ter qualquer relação com a vida das cidades, até entendermos que Ed conseguiu racionalizar situações complexas em abordagens e fórmulas realmente simples e enxutas, contrariando a complexidade natural das teses acadêmicas. Utilizando terminologia simples, quase leiga, Ed Thorp permitiu aos “não-iniciados” e “não-ungidos” se beneficiarem de suas criações.

Na biografia de Edward Thorp (“Um homem para qualquer mercado: De Las Vegas a Wall Street, como derrotei a banca e o mercado”), Nassim Taleb escreve no prefácio que “(para um acadêmico) o que importa é a percepção de sofisticação. Quanto mais complicado, melhor; coisas simples não rendem citações, não aumentam seu índice de produtividade nem ajudam em qualquer métrica (…).

Evoco Ed Thorp para lembrar que grandes ideias e grandes descobertas — como o domínio do fogo, a roda, as engrenagens, os ciclos lunares, noções de agricultura, a escrita, a matemática e mais um mundo de descobertas tão geniais quanto simples, até a minha favorita, o clipe — são, todas, de uma simplicidade quase irritante.

E, tendo falado da importância de uma abordagem igualmente forte, racional, simples e de fácil compreensão, posso falar da requalificação de zonas urbanas degradadas, o grande tema do momento, não apenas porque nossas cidades vem apodrecendo de dentro para fora, literalmente, mas também porque as bordas que continuam a ser ampliadas já nascem estragadas, acéfalas.

Sim, os centros urbanos podem — e precisam — ser requalificados, e não apenas como forma de evitar uma “gangrena” urbana, mas como uma forma de resgate daquelas áreas onde a história tem mais densidade e onde a alma habita.

O centro precisa ser requalificado pela vitalidade da cidade, e como forma de (re)lembrar que aquele foi o local que uma comunidade escolheu para se fixar e construir o “seu lugar”, a cultura local e seu comércio, seus parques, suas praças, seus prédios públicos, suas residências, seus escritórios, seus consultórios, seus cinemas e teatros, suas escolas e faculdades.

Se Belo Horizonte tem hoje o privilégio de ter a visão do Arquiteto e Urbanista Washington Fajardo para revitalização de seu centro, há algumas fórmulas simples, ao estilo Ed Thorp, que podem ser implementadas como uma espécie de “preparo do terreno” para os planos que venham a ser concebidos.

Quando se fala em requalificação e reocupação das zonas centrais de um cidade, há uma tríade inescapável, incontornável e inadiável: segurança pública, limpeza urbana e zeladoria (compreendendo paisagismo, pavimentação de calçadas e ruas, sinalização, redes de água e esgoto, rede elétrica e de dados) .

Sem segurança real e total dos moradores, comerciantes e transeuntes, sem limpeza de verdade e sem uma manutenção adequada e competente da infraestrutura local, não há proposta de requalificação que se sustente no tempo.

Não há, e não há meio termo no que se entenda por segurança real, limpeza de verdade e zeladoria efetiva.

Podemos compreender essa tríade como a “tabula rasa” não apenas para uma requalificação, mas para garantia de um patamar civilizatório mínimo e padrões aceitáveis de dignidade.

Fosse Thorp, haveriam fórmulas simples, como essa primeira fórmula indicando que:

Segurança + Limpeza + Zeladoria = Mais pessoas nas ruas e morando no local

Haveria uma segunda fórmula na qual:

Mais pessoas nas ruas e morando no local = Mais comércios e serviços

E uma terceira indicando que:

Mais comércios e serviços = Mais empregos

Daí ficou fácil de entender que:

Mais empregos = Menor necessidade de transporte público

Agora imagine que:

Menor necessidade de transporte público = Redução do orçamento municipal

E que:

Menor necessidade de transporte público = Menor tempo de deslocamentos

E que:

Menor tempo de deslocamentos = Mais qualidade de vida para todos = Maior produtividade de todos = Remunerações mais altas

E terminamos com:

Maior produtividade de todos = Negócios mais lucrativos = Aumento na arrecadação de impostos e do orçamento municipal

A rigor, não importa se as administrações anteriores não tiveram vontade, visão ou foram ofuscadas por estudos complexos demais. Importa é que a atual administração encare o desafio de frente e faça da segurança pública, limpeza urbana e zeladoria uma questão central, prioritária e permanente da agenda municipal.

Bora arrumar a casa?

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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