Nos últimos anos, o debate sobre inovação urbana deixou de se restringir a tecnologias, mobilidade ou desenho do espaço público. Há um eixo igualmente transformador, mas muitas vezes negligenciado: o financeiro. Como financiar a cidade que queremos? Essa pergunta ganha centralidade num contexto em que os orçamentos públicos estão pressionados e as demandas sociais, ambientais e habitacionais só aumentam.
Um exemplo dessa virada é o recente fórum que tive a oportunidade de participar, promovido pelo BNDES e pelo BID no Rio de Janeiro, reunindo gestores públicos, investidores e especialistas para discutir novos modelos financeiros aplicados ao desenvolvimento urbano sustentável. O ponto de partida é claro: sem instrumentos criativos de estruturação de projetos, o discurso sobre cidades resilientes não sai do papel.
Entre as soluções, destacam-se os green bonds, títulos verdes que captam recursos de investidores privados para obras com impacto ambiental positivo, como drenagem urbana, energia limpa ou requalificação de áreas degradadas. Outro caminho são as parcerias público-privadas (PPPs) aplicadas de forma mais flexível, não apenas em grandes concessões de infraestrutura, mas também em projetos de habitação, iluminação pública eficiente e recuperação de centros históricos.
Também cresce a relevância dos fundos de desenvolvimento urbano, que articulam aportes de diferentes atores – bancos multilaterais, setor privado e governos locais – para diluir riscos e acelerar entregas. Um mecanismo inovador nesse campo é o blended finance, que combina recursos públicos, filantrópicos e privados. Nesse modelo, o capital público ou de fundações assume parte do risco inicial, abrindo espaço para que investidores privados aportem valores mais robustos. É uma forma de multiplicar recursos e viabilizar projetos que dificilmente se sustentariam apenas pela lógica tradicional de mercado, como habitação social ou infraestrutura de saneamento.
A inovação, porém, não é apenas de produto financeiro, mas de governança. Exige transparência na seleção de projetos, métricas claras de retorno socioambiental e capacidade técnica dentro das prefeituras para estruturar propostas bancáveis – as prefeituras precisam ter gente dedicada exclusivamente a esse tipo de iniciativa. Não basta criar instrumentos sofisticados se os municípios não conseguem transformar suas demandas em projetos viáveis.
A boa notícia é que essa agenda coloca a cidade como ativo de investimento. Quando incorporamos a lógica de que requalificar um bairro, recuperar um rio urbano ou construir um parque pode gerar retorno econômico mensurável, aproximamos urbanismo e finanças em benefício da sociedade.
Mais do que captar dinheiro, trata-se de mudar a forma como vemos o desenvolvimento urbano: não como custo, mas como oportunidade. Se conseguirmos avançar nessa direção, as inovações financeiras podem ser tão transformadoras quanto qualquer obra física – invisíveis à primeira vista, mas decisivas para desenhar cidades mais justas, resilientes e sustentáveis.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.