“A diferença entre uma economia que cresce e uma economia que estagna é a mudança. Quando se faz uma economia crescer, acelera-se um futuro diferente. Quanto maior o crescimento, mais radicalmente o futuro diverge do passado.”
Ezra Klein e Derek Thompson não pensam no Brasil. Se pensassem, não teriam escrito “Abundância”, porque muito embora o diagnóstico se encaixe perfeitamente, é difícil comparar por aqui o momento atual em nossa permanente crise de moradias com uma outra época na qual uma parte significativa das famílias de baixa renda puderam adquirir moradia, ao invés de construir barracos em áreas invadidas e favelas.
Os Estados Unidos já viveram uma época onde uma família conseguia comprar uma casa pelo valor equivalente a 2,2 salários anuais de um trabalhador (de um trabalhador, não da renda familiar, note-se). No Brasil, isso jamais foi possível numa relação decente entre o salário e o custo do imóvel. E a pequena parcela que conseguiu realizar o sonho da casa própria desde a criação do BNH até a virada do século 20 o fez em imóveis distantes, de baixíssima qualidade e por meio de extensos subsídios.
Ezra Klein e Derek Thompson lembram que, para produtos e serviços escassos, o subsídio é o principal combustível do aumento dos preços, na medida em que estimula a demanda sem a contrapartida do atendimento no lado da oferta.
Pense comigo: a moradia popular no Brasil é, por definição, coisa de grandes movimentos em enormes empreendimentos. São “bolsões” com centenas e milhares de unidades padronizadas. Como são centenas e milhares de unidades, em modelos de baixa densidade (vai saber por que…), demandam terrenos enormes. Terrenos enormes – e baratos – só existem como zona rural, comercializada não em metros quadrados, mas em hectares (por ser parcelada e transformada em zona urbana nas franjas metropolitanas).
Nada define melhor a miopia no tratamento da questão da habitação social no Brasil quanto a passagem em “Abundância”: “A política não se trata apenas dos problemas que temos. Trata-se dos problemas que vemos”.
A abordagem atual e histórica da questão do déficit habitacional é tratada exclusivamente enquanto índice, número e quantidade, mas não enquanto solução definitiva, integração com a cidade, pertinência e pertencimento, chance de sucesso, segurança pública, oportunidades para seus moradores.
É uma questão social e econômica, mas que é tratada pelo prisma dos índices e quantidades em gráficos de Power Point e discursos de impacto. Mas é um problema real, no qual o curso de ação atual tem consequências tão desastrosas e nefastas quanto a falta de ação.
Fazer errado é tão ruim quanto não fazer nada.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.