Entendendo o caso do encarecimento das habitações de Belém

O Instituto Cidades Responsivas divulgou no último mês uma nova atualização para o Indicador de Acesso Habitacional, elaborado a partir de dados do mercado imobiliário referentes ao mês de março de 2025. O indicador estima o percentual médio da renda mensal que uma família precisaria comprometer para financiar um imóvel com o preço mediano anunciado em cada capital brasileira. A nova atualização confirma uma tendência de encarecimento dos preços de moradias em relação à renda populacional das cidades analisadas, especialmente refletindo o efeito da elevação das taxas de juros aplicadas em financiamentos imobiliários.

Entre as cidades avaliadas, Belém chamou atenção por registrar uma das maiores elevações do valor do indicador em relação ao levantamento de dezembro de 2024, considerando tanto a compra quanto o aluguel das habitações. Como já discutimos em colunas anteriores, entender a razão dessas altas é complexo. Em Belém, acredita-se que tenha ocorrido uma intensificação da procura por imóveis, visto que algumas pesquisas apontam a ocorrência de um aumento do número de residentes da cidade com intenção de comprar uma habitação. Isso pode ter ocorrido tanto devido a um aumento da renda média local, que ainda não foi capturado pelos dados oficiais sobre o tema, ou porque o aumento dos aluguéis em Belém incentivou famílias locais a buscarem a casa própria.

Além disso, especula-se que também tenha ocorrido uma elevação da demanda por habitações impulsionada por uma percepção de valorização futura dos imóveis, alimentada pelo anúncio de investimentos urbanos associados à preparação de Belém para sediar a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30). Possivelmente, a expectativa de locar imóveis para o período da conferência pode estar reduzindo a oferta destes para a população fixa da cidade, aumentando a concorrência pelo estoque restante.

Os resultados da atualização do indicador e as tendências observadas em Belém reiteram a relevância de se monitorar continuamente as condições de acesso à moradia nas cidades brasileiras, especialmente para identificar de antemão situações em que pode ocorrer valorização imobiliária acelerada em uma localidade e permitir que a administração pública consiga agir rapidamente para tentar mitigar a situação.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.