“Em breve, um novo marco para a cidade”

10 de julho de 2024

Quem nunca viu, ao passar por tapumes de uma obra, em um panfleto de algum novo empreendimento, ou até mesmo em um post patrocinado nas redes sociais, a seguinte chamada: “em breve, um novo marco para a cidade”?

Pois então, esses tempos me deparei com um post, em alguma rede social, não lembro qual, que anunciava um novo empreendimento de edificação em altura para São Paulo com esse tipo de chamada e, na hora, pensei: “será, mesmo?”

Refletindo sobre o assunto, alguns outros questionamentos surgiram: “será necessário mais um marco para a cidade?”, “o que leva um edifício a ser um marco?”, “hoje são construídas edificações capazes de se tornarem marcos?”

Rapidamente, em meus livros, encontrei o pesquisador de edificações em altura, Kheir Al-Kodmany, no seu livro Understanding Tall Buildings: a Theory of Placemaking, abordando o assunto com o seguinte texto:

Marcos são objetos físicos facilmente distinguíveis uns dos outros e que servem como um ponto de referência conhecido. Os marcos enriquecem o tecido urbano, criando legibilidade espacial e melhorando a experiência visual de uma cidade. Devido à sua grande altura e clara visibilidade a longas distâncias, os edifícios altos podem ser vistos como marcadores ao longo do horizonte de uma cidade, sendo que alguns deles, dependendo da forma e do tamanho, podem até se tornar marcos. Existem pelo menos quatro atributos espaciais e visuais que contribuem para tornar os edifícios altos marcos. Isso inclui altura, forma, localização e composição espacial (ou “agrupamento”).

Portanto, para um edifício ser um verdadeiro marco, sua altura precisará se destacar perante as edificações adjacentes, sua volumetria deverá apresentar características distintas das usuais e o local deve contribuir para realçar sua percepção visual, por exemplo. Ou seja, não é qualquer edificação que se tornará um marco para a cidade.

Entretanto, podem haver marcos positivos ou negativos. Em outras palavras, os marcos podem ser adorados ou odiados pela população local. Vide o exemplo da Tour Montparnasse em Paris. Ela é um marco, porém sua falta de contexto com a cidade a torna abominada pelos parisienses. 

Outras características também podem tornar edificações marcos odiados ou não marcos. O conjunto de diversas edificações tentado ser um marco podem criar um efeito “zoológico” de volumetrias na região. Assim como edifícios hostis para as pessoas – térreos sem atrativos – não aproximarão a população de si, tornando-se um “elefante branco” na cidade. 

Trago a reflexão nesta coluna, pois é comum desenvolvedores (arquitetos e incorporadores) quererem que sua obra se torne um marco. Quantas vezes já ouvi de clientes quando o projeto será iniciado a seguinte frase: “Eu quero que esse edifício seja um marco”. Não há problema com ela, mas para isso haverá de ter escolhas e investimentos para que, de fato, a edificação se torne um marco.

Também não há problema de o novo edifício não ser um marco. Arrisco dizer que na imensa maioria das vezes é mais importante a edificação compor com seus vizinhos e criar uma agradabilidade para sua localização do que “tentar” ser um novo marco sem as condições necessárias para ser um marco positivo para a cidade. Afinal, ninguém quer construir marcos para as pessoas odiarem.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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