Na semana passada, Toronto recebeu a Conferência Internacional do CTBUH sob o tema “From the Ground Up: Tall Buildings and City-Making”. O título já revelava a ambição do encontro, discutir não apenas edifícios em si, mas o papel que desempenham na construção das cidades.
Em meio a debates sobre habitação acessível, sustentabilidade e densidade urbana, um anúncio histórico marcou o evento: o Council on Tall Buildings and Urban Habitat deixará de existir sob esse nome. A partir de agora, a instituição passa a se chamar Council on Vertical Urbanism – CVU.
A mudança pode parecer apenas uma atualização de marca, mas reflete uma transformação muito mais profunda. Desde a sua fundação, em 1969, o CTBUH foi a principal referência mundial em edifícios altos. Suas métricas definiram o que é “o mais alto do mundo”, seus estudos disseminaram padrões de desempenho e suas conferências reuniram os protagonistas da urbanização vertical.
Contudo, com o avanço das crises habitacionais, climáticas e de infraestrutura, tornou-se evidente que pensar apenas em edifícios já não basta. Era preciso pensar a cidade vertical – o conjunto de relações entre densidade, espaço público, mobilidade e desempenho ambiental que acontece quando o crescimento deixa de ser horizontal.
O novo nome expressa essa virada conceitual. “Vertical Urbanism” amplia o foco do edifício isolado para o sistema urbano tridimensional que o envolve. A edificação deixa de ser fim e passa a ser meio, como um instrumento de densificação responsivo, integração funcional e desenho urbano.
Afinal, a verdadeira medida da verticalização não está em metros de altura, mas na capacidade de gerar vida urbana, reduzir deslocamentos e usar melhor a infraestrutura existente. O urbanismo vertical, portanto, não é uma defesa cega da altura, e sim uma proposta de cidade mais eficiente, compacta e habitável.
A conferência reforçou essa mensagem. Ao longo dos painéis e apresentações, ficou claro que o debate global sobre arranha-céus se deslocou: o interesse agora é pela integração entre planejamento urbano, design arquitetônico e políticas habitacionais.
Não se trata de competir por marcos de altura, mas de entender como o adensamento vertical pode contribuir para cidades mais justas e harmônicas. Nesse sentido, o novo Conselho de Urbanismo Vertical simboliza o amadurecimento de um campo que, finalmente, reconhece que o edifício alto é parte da solução – desde que inserido em um projeto urbano coerente.
O anúncio do Council on Vertical Urbanism marca, assim, uma inflexão no pensamento global sobre o futuro das cidades. O desafio que se impõe agora é como traduzir esse urbanismo vertical em políticas e projetos reais – capazes de aproximar eficiência e inclusão. E foi justamente essa a provocação deixada pela conferência para os próximos debates: como tornar a habitação acessível parte desse novo paradigma? Um tema que promete guiar as próximas discussões e também a próxima coluna.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.