Arquitetura boa é aquela que prende a atenção, que impressiona, que maravilha.
A melancia no pescoço prende a atenção, mas não impressiona e nem maravilha. Um prédio feio impressiona e prende a atenção, mas não maravilha. Um prédio bobo não prende a atenção e, além de não impressionar e não maravilhar, torna a paisagem insossa e estraga a cidade.
Mas falta aí algum componente que, para além de prender a atenção, possa impressionar e maravilhar, embeleze a cidade, produza uma boa sensação no espectador e permaneça interessante e atual (ou se torne um clássico com o passar dos anos).
Talvez tenha a ver com harmonia nas linhas, com a proporção do volume ou das aberturas em relação ao volume. Talvez seja uma configuração estrutural inusitada, ou os materiais de acabamento escolhidos, a paleta de cores e o paisagismo que compõem o conjunto.
Assim como alguns sons, melodias e músicas provocam alegria, geram satisfação ou trazem tranquilidade, a boa arquitetura evoca as mesmas sensações e provoca os mesmos efeitos na população.
São atributos muitas vezes insondáveis, intangíveis e impossíveis de serem programados ou descritos de antemão num roteiro para a boa arquitetura, razão pela qual os bons arquitetos são insubstituíveis por qualquer tecnologia ou inteligência artificial.
Mas atenção: apenas os bons arquitetos são insubstituíveis, porque quando a arquitetura não tem valor, bastam um checklist completo e as modernas ferramentas de inteligência artificial integradas aos softwares de arquitetura.
Quando vale produzir prédios feios ou inodoros, os arquitetos deixam de ter muita importância e são pouco mais do que meros despachantes aprovando o projeto nas prefeituras. E aqui vai uma dica para os arquitetos (que não têm a intenção de limitar a sua atuação profissional a aprovar projetos na prefeituras) e aos incorporadores que pretendem que seus prédios sejam notados e bem percebidos: invista no volume. Arquitetura é, antes da planta e do aproveitamento de cada centímetro quadrado, volumetria. O volume não precisa ser inédito, mas precisa ser uno, precisa ser lido e compreendido pelo espectador.
Se além de um volume que faça sentido e seja legível, o projeto tem proporção, faz sentido ao olhar do leigo e apresenta um esquema de aberturas que agrega à composição, 70% do desafio estará superado. Para alcançar 100% e a posteridade, apenas mais dois pontos de atenção: jamais criar um volume que tire a visibilidade do volume (a famosa e detestada bandeja) e jamais escolher materiais ordinários e descombinados, exagerados ou descontextualizados.
Como tudo o que importa na vida (arte, literatura, poesia, natureza, arquitetura, felicidade, amizade, amor, criatividade, invenção e coragem), é mais fácil descrever o caminho do que trilhar o caminho, do que chegar lá e realizar o intento.
Mas é assim, e se você pretende prender a atenção, impressionar e maravilhar, siga os passos acima. Não faça um projeto na correria, sem inspiração, sem intenção. Não priorize a solução de planta, não se perca arrancando mais alguns centímetros quadrados em cada apartamento. Um chef competente jamais colocará a casca do tomate no prato só porque pagou pela fruta inteira.
Arquitetura não é brincadeira, e as cidades não aguentam mais arquitetos e incorporadores que tratam a arquitetura como se fosse.
Faça-me o favor.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.