Na verdade, para compreender melhor o assunto, o título desta coluna deveria ser: “A dificuldade em fotografar edifícios altos que ‘abraçam’ ou são ‘abraçados’ por suas cidades”. A propósito, vários outros títulos poderiam ser abordados, mas optei por algo curto que, quiçá, chamasse atenção.
O verbo “abraçar” poderia ser trocado por “contextualizar”, “amarrar”, “compatibilizar”, entre tantos outros que transmitem uma ideia de inserção e/ou adaptação, pois o que trago nesta semana é sobre fotografar edifícios altos. Espero que os fotógrafos e entusiastas da fotografia concordem comigo, mas como é difícil fotografá-los.
Não são todos, entretanto, e carrego esse lema comigo, o edifício alto bem inserido na cidade é difícil de ser fotografado ao nível da rua.
Digo fotografá-lo por completo. Aquela fotografia que pegue o edifício do início ao fim. Por exemplo, alguém já conseguiu fazer uma boa foto de todo o edifício, ao nível da rua, do Empire State Building, do Edifício Copan, do Edifício Santa Cruz, do Leadenhall Building?
Acredito que não.
Claro, em um visual panorâmico de um mirante, de algum rooftop, de alguma janela de outra edificação, é possível sim. Porém, aquela foto da calçada, da caminhada corriqueira do dia a dia, da ida ao trabalho, o edifício alto que “abraça” a cidade ao seu redor é, sem dúvida, difícil de ser fotografado. Essa dificuldade a qual me refiro é, justamente, refletida nos verbos citados anteriormente.
O Empire State Building, apesar de sua construção ocupar uma quadra inteira, foi completamente “amarrado” pela cidade que cresceu e o cercou. O Edifício Copan, em um gesto curvilíneo, “abraçou” os seus vizinhos e “adaptou-se” ao formato do seu lote. O Edifício Santa Cruz, “compatibilizou” a sua primeira altura com os demais edifícios que o circundam. O Leadenhall Building, “contextualizou-se” por ritmos, alturas e aberturas às condicionantes de seu local.
Diversos outros edifícios em altura poderiam ter sido citados, inclusive nas mesmas cidades dos mencionados. Em Nova York, o Chrysler Building é outro exemplo dos mais antigos, enquanto o 53 West 53 – edifício que abriga o MoMA – é exemplo dos mais novos. Alguém já conseguiu fazer uma foto boa desde o térreo deles por completo?
Em Porto Alegre, outros edifícios em altura que seguem volumetria semelhante ao citado Ed. Santa Cruz também são difíceis de serem fotografados, pois a morfologia deles foi criada para que eles não fossem facilmente percebidos.
Qualquer edifício alto inserido no cluster da City de Londres também é difícil de ser fotografado ao nível do observador, pois como o próprio nome já diz, eles formam um conjunto de edifícios e não devem ser observados separadamente.
Agora, como é fácil fotografar o The Shard de Londres, por exemplo. Ou fotografar, em São Paulo, o Edifício Itália e o Mirante do Vale. Em Porto Alegre, fotografar o Centro Administrativo Fernando Ferrari é fácil, também. Estes foram construídos estrategicamente para serem vistos, seja em pontos focais com marcos da cidade, assim como o OneWTC de Nova York. E não há problema nisso.
Há problema quando edifícios brotam aleatoriamente no território ordinário, ficando “solitários” por anos e anos até sua quadra, ou os quarteirões vizinhos, serem completados. Infelizmente, tenho a dizer que dificilmente serão completadas e eles estarão lá, se destacando da paisagem corriqueira ao nível do observador, pois esses não “abraçam”, “amarram”, “compatibilizam”, “contextualizam” com nada.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.