Vamos imaginar que existem dois tipos de edifícios em altura e dentro de cada um inúmeras morfologias.
A primeira tipologia nasce a partir do princípio dos edifícios altos, quando construtores viram ser possível viabilizar a construção de edificações com mais pavimentos para suprir a demanda de um terreno valorizado.
A segunda tem sua origem em críticas à primeira. Fatores como luz solar, ventilação e ruas escuras foram levados em consideração para sua criação em um ideal de cidade mais arejada.
Uma tipologia utiliza praticamente toda superfície do terreno para ser construída, não possui afastamentos, não possui limites de altura e nem índices construtivos. Quem manda é a demanda de uso no terreno. Existe um mínimo a ser construído e por vezes há um gabarito para mitigar alguns efeitos indesejados como os citados no parágrafo acima.
O outro tipo, rodeado por afastamentos, possui uma taxa máxima de ocupação da volumetria do edifício no terreno, a altura é baseada no tamanho do lote. Isso quer dizer que quanto maior o terreno, mais alto se pode chegar e maiores afastamentos terá. Fórmulas matemáticas ditam o tamanho dos recuos. Existe um potencial máximo construtivo que não pode ser ultrapassado, consequentemente a forma atingida por esses cálculos não é única. Se busca, então, uma proporção adequada da planta baixa do edifício em função da dimensão do terreno.
Ambas possuem a intenção de liberar mais área verde no solo. No entanto, a primeira concentra os edifícios altos de tal forma que é necessário um território bastante menor para a abrigar a mesma população da segunda. O resultado é um ambiente natural preservado ao redor da cidade.
Já a segunda, com uma superfície maior na cidade, permite espaços verdes entre as edificações. Consequentemente, o território se expande pelo ambiente natural.
A concentração de edifícios altos gerada pela primeira tipologia permite uma maior caminhabilidade nas ruas. Ou seja, edificações mais próximas das calçadas e melhores deslocamentos a pé devido a curta distância entre atividades. Além do mais, devido à densidade construtiva maiores, há demanda para o comércio de rua no térreo dos edifícios.
A segunda tipologia causa uma dispersão desses edifícios em altura. Provavelmente haverá vias mais largas decorrentes da demanda por um melhor fluxo de veículos, visto que os deslocamentos precisarão ser feitos de carro devido às distâncias das tarefas. Com as densidades controladas por causa dos potenciais construtivos máximos, nem sempre haverá demanda por lojas nos térreos das edificações. O que certamente haverá serão jardins bastante arborizados.
Encontramos a primeira tipologia em cidades como Chicago e Nova York. Equitable Building, Flatiron Building e o Empire State Building são bons exemplos para esse tipo.
Nessas mesmas cidades, também passaram a implementar a segunda tipologia. O famoso Seagram Building é um dos pioneiros desse tipo.
Na realidade brasileira, o primeiro tipo é visto nos centros históricos das cidades. Em um período pré planos diretores, era possível construir sem limitações de potenciais construtivos, apenas seguindo regras de gabarito. Ed. Itália em São Paulo, Ed. Santa Cruz em Porto Alegre demonstram a tipologia.
O segundo tipo é visto agora, em um período pós planos diretores. Estão por todos os bairros mais recentes das cidades brasileiras. Residencial Figueira Altos do Tatuapé em São Paulo ilustra bem esse caso.
Se as demandas atuais de urbanismo almejam cidades mais compactas, por que ainda seguimos implementando a segunda tipologia ao invés de retornar para primeira?
E aí, qual das duas tipologias vocês preferem?
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.