Devemos programar nossos skylines?

24 de julho de 2024

Uma reportagem publicada no New York Times demonstrou a preocupação dos nova-iorquinos com a rápida aparição dos novos arranha-céus na ilha de Manhattan, mais especificamente em Midtown. A população teme que o futuro do mais famoso arranha-céu do mundo, o Empire State Building, seja o mesmo do Chrysler Building, outro ícone, que hoje está “enclausurado” por edificações mais altas ao seu redor. Como consequência, seu belíssimo pináculo, por diversos pontos da ilha, mal pode ser contemplado.

Mais altos e mais esbeltos, os novos edifícios estão começando a obstruir visuais para o quase centenário arranha-céu de 381 metros de altura e 102 andares. Não faz muitos anos que essa nova tipologia começou a surgir na paisagem de Nova York, principalmente devido a regramentos de air-rigths. Porém, até então, os mais altos estavam sendo construídos ao longo da rua 57, a qual ganhou o apelido de “Billionaires Row”

Enquanto estavam localizados apenas nessa via, no emblemático panorama a partir do One WTC, pareciam guarda-costas da estrela, o Empire State Building. Isto acontecia porque o destaque era o arranha-céu ícone, ao mesmo que tempo em que as “slender towers” portavam-se atrás do ator principal. 

No entanto, o 262 Fifth Avenue, de 262 metros e 54 andares, atingiu o seu topo de construção e está localizado poucas quadras à frente do Empire State Building, já obstruindo certos visuais consolidados na mente não só dos nova-iorquinos, mas de todos que já visitaram a “cidade que nunca dorme”. 

Para que não ocorram situações como a de Nova York, cidades como Londres, Vancouver e Hong Kong, por exemplo, apelam para os chamados “corredores visuais” ou “cones de visualização”, na tentativa de garantir panoramas liberados para importantes localizações. A estratégia desses “cones” é proibir construções que ultrapassem determinado ângulo a partir de determinado local, criando consequentemente, digamos, um skyline programado. 

Em Londres, os “corredores” buscam proteger de qualquer expansão inapropriada dez visuais estratégicos para a Catedral de St. Paul e o Palácio de Westminster. Já Vancouver e Hong Kong procuram garantir que as edificações em altura não ultrapassem a silhueta das cadeias de montanhas atrás dos aglomerados urbanos em determinados locais.

Traçando um paralelo com a nossa realidade, no Brasil, quando há algum tipo de restrição nesse sentido, são regras genéricas para qualquer edificação que esteja na lista de tombadas. Não há um estudo caso a caso, como parece existir nos locais exemplificados.

Deveríamos proteger visuais para importantes edificações, cúpulas de igrejas e montanhas? 

Talvez essa pergunta esteja sendo feita bastante tarde, pois a paisagem do horizonte de boa parte das cidades brasileiras já está consolidada. No geral, não há sequer uma tentativa de um skyline programado. 

O skyline produzido nas cidades brasileiras é confuso e caótico ao se dispersar no território devido às regras urbanísticas que horizontalizam a linha do horizonte.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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