Na era da “cidade inteligente”, continuamos a ver os mesmos problemas persistentes que afligem as cidades há várias décadas, como tempos longos de deslocamento, moradia precária, segregada e a preços excessivos. Para os mais vulneráveis, esses problemas são mais dramáticos e se associam à ausência de oportunidades próximas ao local de residência. Como se não bastasse, as cidades representam o locus em que as consequências das mudanças climáticas se manifestam e, como sabemos bem, estão cada dia mais presentes. A promessa da tecnologia como solução para os problemas urbanos ainda não se concretizou.
Muitas políticas públicas parecem simplesmente não se basear nas evidências e, muitas vezes, ignoram as reais necessidades da população. O que observamos é que essas decisões não conseguem incorporar de forma eficiente os avanços tecnológicos em favor de melhores soluções — reforçando desigualdades em vez de reduzi-las. Mesmo havendo consenso sobre direções óbvias, como priorizar o transporte coletivo e ativo em vez do carro particular, as mudanças demoram e parecem nunca chegar.
Quarenta anos após a redemocratização, o país conseguiu avanços significativos em políticas sociais e tem maior compreensão dos problemas e suas complexidades, mas o ritmo é lento e nem sempre reflete a maior compreensão e as evidências geradas pela academia e o potencial das tecnologias disponíveis. É possível termos melhores decisões de política pública de forma a garantir o acesso às oportunidades e o bem-estar da população nas cidades brasileiras? Temos como mitigar a assimetria de oportunidades que se exacerba nas cidades brasileiras por conta das desigualdades nos territórios?
O FGV Cidades – Centro de Inovação em Políticas Públicas Urbanas nasceu como um CCD (Centro de Ciência para o Desenvolvimento) financiado pela Fapesp e apoiado por parceiros estratégicos, tanto públicos quanto privados, para construir e implementar melhores soluções de política pública urbana. O Centro tem como missão aumentar o acesso a oportunidades, em especial da população mais vulnerável, e avançar em soluções de política pública ancoradas em conhecimento científico, evidências e inovação tecnológica.
Sabemos que boas intenções não bastam. É necessário compreender profundamente o problema, seja de mobilidade, habitação, distribuição das atividades econômicas e da educação no espaço, ou até mesmo no acesso ao lazer. Depois disso, é preciso contar com evidências que orientem os melhores caminhos. Então, chega a hora de trabalhar lado a lado com o poder público e o setor privado em prol de cidades melhores em todo o ciclo da política pública: formulação, execução, monitoramento e avaliação.
Nesse sentido, o FGV Cidades atua em diversas frentes. Em Porto Alegre, redesenha o sistema de transporte metropolitano para integrar novos modais e ampliar a eficiência e a inclusão. Em São José dos Campos, implementa um laboratório de mobilidade para otimizar a gestão do tráfego. Em São Paulo, oferece apoio técnico a projetos de expansão e modernização dos Centros Educacionais Unificados (CEUs). Em municípios do Grande ABC, analisa programas de aluguel social, com foco em modelos inovadores para a inclusão territorial e financeira das famílias, a fim de garantir maior acesso a oportunidades.
Por fim, o FGV Cidades estrutura programas de formação — como MBAs e mestrado profissional em gestão de políticas públicas — orientados à solução de problemas reais, capacitando gestores para desenhar, implementar e avaliar políticas com base em evidências e conhecimento de ponta nas áreas. Todas essas iniciativas exemplificam o compromisso do FGV Cidades em concretizar e escalar políticas públicas urbanas mais eficazes.
Aceitamos, honrados, o convite para criar esta coluna e caminharmos juntos nessa jornada com o Caos Planejado, ampliando o diálogo e o amálgama de ideias, evidências e experiências que podem transformar as cidades. Munidos de conhecimento, podemos quebrar o ciclo de desigualdades e construir, juntos, as cidades que desejamos e precisamos.
Ciro Biderman
Diretor do FGV Cidades e professor e pesquisador da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da FGV (FGV EAESP). Estuda economia urbana e regional focada em políticas públicas em nível subnacional, com ênfase nas políticas fundiárias e sua interação com os mercados imobiliários e com os custos de transporte.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.
