Cidades são redes de agentes

15 de maio de 2025

Cidades são redes — costuram ações que disparam acontecimentos. Em 2001, o Estatuto da Cidade trouxe os instrumentos necessários para transformar essa trama em uma gestão urbana mais democrática e integrada. Uma rede que envolve de forma ampla os agentes que participam do desenvolvimento urbano. Destacava-se ali, como premissa, tanto a participação das pessoas na concepção das cidades quanto o uso de instrumentos de planejamento estratégico — como as operações urbanas consorciadas e a outorga onerosa do direito de construir, entre outros. Um entendimento de concertação econômica, no qual diversos instrumentos são utilizados para configurar uma única harmonia: a cidade como uma orquestra.

Parece curioso que exista uma lei para trazer luz ao óbvio, mas não é. O desenvolvimento das cidades tem representantes diversos que, ainda que em coexistência, em muitos casos não produzem ações transversais direcionadas a um mesmo objetivo. Isso porque a cidade é lugar de heterogeneidade, escolhas, culturas, premissas e papéis que, muitas vezes, causam tensão no território, o que acaba por ter como resultado a anulação de forças em um cabo de guerra infinito.

Ainda que seja incômoda essa condição tensionada, ela revela que é preciso lidar com a cidade como esse lugar de conflitos. Reconhecer que eles são parte do jogo é o primeiro passo para resolvê-los. E é neste ponto que os conflitos se transformam em oportunidades. Como destacou Alain Bertaud, “é isso também que define uma cidade — as histórias acontecem por causa do contato, da colaboração e até do confronto dentro de uma área delimitada.

A cidade, como tabuleiro de ações projetivas, tem como desafio acomodar todas as peças, em um jogo no qual o sucesso de uma peça depende do sucesso da outra — e assim por diante. Uma regra teoricamente simples, em que todos ganham. Na prática, isso depende de sensibilização, instrumentalização, efetivação e, sobretudo, simplificação para ampliar o entendimento. E para simplificar, temos a tecnologia a nosso favor, amplificando, inclusive, o diálogo e o azeitamento entre as peças.

Analogamente ao comportamento da natureza, o termo “protocooperação” vem sendo atribuído também a mecanismos de interconexão entre os atores que atuam na cidade. Daí surgem outros neologismos, como “protocolaboração” ou “protopolítica”, mas em todos os casos esses termos atribuídos ao urbanismo significam que a produção de ações colaborativas entre cidadãos, governos, mercados e acadêmicos pode gerar benefícios para todos, podendo existir de forma independente.

Colaborar, por sua vez, emerge com potência em seu significado quando aplicado em ações práticas. Vindo do latim “collaborare”, que significa “trabalhar junto”, colaborar implica cocriar, compartilhar responsabilidades e construir algo em conjunto.

O sentido de cooperar — essa existência independente, mas responsavelmente articulada — e de colaborar no desenvolvimento de algo comum e benéfico em escala expandida está no cerne da responsividade. E é sobre isso que o 3º Encontro Cidades Responsivas vai tratar, em agosto, com sede em Porto Alegre. Academia, governos e mercado, perpassados por quem habita o espaço, terão a oportunidade de colaborar para a construção de cidades integradas, nas quais a música que toca, ainda que proveniente de conhecimentos distintos e composta por acordes variados, pode ser entendida e vivenciada por todos os agentes.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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