Chega de regras genéricas

9 de agosto de 2023

Cidades são compostas de distritos e bairros com suas histórias, identidades e modos de convivência entre si e com a urbe. Cada distrito possui bairros com caráter definido que, por vezes, são semelhantes e outras vezes distintos ao entorno adjacente. Um distrito pode ser configurado por bairros exclusivamente residenciais, comerciais, industriais ou mistos. Depende da vocação histórica ou do zoneamento imposto. 

Alguns bairros possuem apenas casas unifamiliares, outros com edificações médias, outros com altas, outros com os diferentes tipos construídos. No bairro, a tipologia dos edifícios pode ser estabelecida ora nas divisas do lote, ora com recuos dos limites do terreno ou ambos os casos. Esses afastamentos entre edificações podem ser estabelecidos de maneiras diferentes a cada mudança ou revisão do Plano Diretor.

Assim é configurada uma cidade — principalmente as brasileiras: mescla de distritos e bairros com características próprias, ou não, e diferentes tipos de edifícios — baixos, médios, altos, largos, finos, etc. — inseridos dentro de cada vizinhança.

E por que, quando são pensadas as volumetrias das edificações, a cada mudança da legislação urbana, são elaboradas regras sem diferenciar o caráter do local? Quando há distinção, a primeira atitude é limitar a altura para aquela região. Demais condicionantes que resultam na forma do edifício seguem as mesmas para toda cidade, não importa o que está do lado. 

O resultado são críticas a quem constrói edifícios, normalmente altos, por descaracterizar ruas e bairros. Sim, é verdade, mas tal fato sucede à problemática inicial: o planejamento e a elaboração de regras genéricas para toda cidade. O que se vê, os edifícios, são consequências de regulamentos que, a cada 10 anos, são discutidos e redirecionados a novas ideias e tendências da época. Não há uma compatibilização com o que já foi construído. 

Claro que a arquitetura da edificação é extremamente relevante numa composição coerente da paisagem. No entanto, a questão é que, inúmeras vezes, não é o bastante para não descaracterizar um espaço, pois as regras ali estabelecidas não permitem que a compatibilização aconteça. 

Não importa a altura dos edifícios, há meios para a criação de uma morfologia de edificação adequada ao ambiente em que será inserida e não são poucos. Para isto, é essencial deixar de lado regras genéricas baseadas em limitações de altura em toda cidade, investigar a identidade de cada distrito ou bairro e, a partir disso, estabelecer volumetrias contextualmente coerentes com a região.

Parece simples, sei que não é, mas mudar o pensamento pode ser um primeiro passo.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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