Casas e canais: a cidade que respira água

3 de outubro de 2025

Estar na Holanda é como viver em um diálogo constante com a água. Aqui, a presença dos canais não é apenas um traço estético ou turístico, mas parte da lógica urbana, da vida cotidiana e da identidade nacional.

As casas que se debruçam sobre a água contam histórias de séculos com janelas grandes e fundações apoiadas em estacas fincadas no solo úmido. Elas foram erguidas para resistir, mas também para conviver. É curioso perceber como a arquitetura se moldou a esse desafio: terrenos instáveis, necessidade de escoamento e adaptação a enchentes.

Os canais, por sua vez, não se limitam a  cenários pitorescos para barcos e bicicletas. São sistemas de drenagem e controle hídrico que permitem que cidades inteiras prosperem em áreas abaixo do nível do mar. Essa relação entre casas e canais mostra como a Holanda transformou vulnerabilidade em potência, um país que, em vez de lutar contra a água, aprendeu a desenhar com ela.

Caminhar por essas ruas é perceber que a cidade não teme a água, mas a integra. Os reflexos das fachadas nos canais lembram que viver aqui exige tanto técnica quanto imaginação. A engenharia se mistura à poesia urbana, revelando que convivência e adaptação podem ser estratégias mais poderosas do que resistência. É claro que não podemos nos esquecer que isso é facilitado pelo planejamento prévio, legislação rigorosa e recursos que permitem essa integração.

Essa experiência me faz pensar no Brasil, onde enchentes são vistas quase sempre como tragédia. Talvez possamos aprender com o olhar holandês, e em vez de expulsar a água, criar cidades que a incorporem e a respeitem. Não é questão de dominar a natureza, mas de dialogar com ela.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Arquiteta e ativista urbana, pós graduada em urbanismo social e habitação e cidade, mestre em Projeto, Produção e Gestão do Espaço Urbano, Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo, atua com a gestão de projetos e ações sociais em territórios periféricos no Instituto Fazendinhando.
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