Estar na Holanda é como viver em um diálogo constante com a água. Aqui, a presença dos canais não é apenas um traço estético ou turístico, mas parte da lógica urbana, da vida cotidiana e da identidade nacional.
As casas que se debruçam sobre a água contam histórias de séculos com janelas grandes e fundações apoiadas em estacas fincadas no solo úmido. Elas foram erguidas para resistir, mas também para conviver. É curioso perceber como a arquitetura se moldou a esse desafio: terrenos instáveis, necessidade de escoamento e adaptação a enchentes.
Os canais, por sua vez, não se limitam a cenários pitorescos para barcos e bicicletas. São sistemas de drenagem e controle hídrico que permitem que cidades inteiras prosperem em áreas abaixo do nível do mar. Essa relação entre casas e canais mostra como a Holanda transformou vulnerabilidade em potência, um país que, em vez de lutar contra a água, aprendeu a desenhar com ela.
Caminhar por essas ruas é perceber que a cidade não teme a água, mas a integra. Os reflexos das fachadas nos canais lembram que viver aqui exige tanto técnica quanto imaginação. A engenharia se mistura à poesia urbana, revelando que convivência e adaptação podem ser estratégias mais poderosas do que resistência. É claro que não podemos nos esquecer que isso é facilitado pelo planejamento prévio, legislação rigorosa e recursos que permitem essa integração.
Essa experiência me faz pensar no Brasil, onde enchentes são vistas quase sempre como tragédia. Talvez possamos aprender com o olhar holandês, e em vez de expulsar a água, criar cidades que a incorporem e a respeitem. Não é questão de dominar a natureza, mas de dialogar com ela.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.