Brasília, 75 anos

25 de abril de 2025

Uma homenagem à minha cidade. Ou ao que ela ainda pode ser.

Brasília faz 75 anos. Dez anos depois da Revolução Gentil, encampada pelo Governo Imaginário do Distrito Federal/GIDF a partir das ideias vindas de vários segmentos da população, comemoramos os resultados dessas medidas tão necessárias, que humanizaram nossa cidade.

Tudo começou com a revogação da lei que determinava que a responsabilidade de construção e manutenção das calçadas era dos proprietários e ocupantes dos imóveis, tendo desde então o GIDF assumido essas funções. Todas as calçadas foram refeitas, alargadas, niveladas. O trajeto dos pedestres tornou-se acessível e contínuo de tal modo que idosos ou pessoas com qualquer tipo de deficiência hoje circulam sem nenhuma dificuldade no Distrito Federal. Travessias e cruzamentos foram redesenhados, o tempo dos semáforos foi modificado em prol das pessoas e… já são 38 anos de respeito ao pedestre na faixa!

Em todas as ruas foram plantadas árvores, e a cidade inteira é, hoje, mais verde do que jamais foi! A qualidade do ar e a temperatura no meio urbano, desde então monitoradas, apresentam resultados incrementalmente positivos, o que se alinha com a percepção da população e os números da Secretaria de Saúde. Completou-se e se ampliou a rede de ciclovias, com estrutura e sinalização impecáveis, e esse modo de transporte ganhou mais adeptos, inclusive entre crianças e adolescentes, que se deslocam com segurança em seus bairros. A iluminação pública foi reestruturada para atender aos pedestres e implantou-se lindo mobiliário para permanência, como bancos, bebedouros e banheiros públicos, todos bem mantidos. Andar pelas ruas de Brasília, de dia e de noite, deixou de ser uma atividade desgastante, incômoda. As pesquisas mostram que o brasiliense caminha muito mais que há 10 anos, pois o deslocar-se a pé ficou mais seguro e interessante para curtas e médias distâncias.

Isso se deve também ao fato de que os estacionamentos públicos de superfície passaram a ser cobrados, e várias rotas de transporte público passaram a ser gratuitas, ampliando o que há uma década se havia iniciado: a tarifa zero para domingos e feriados. Esses estacionamentos foram redesenhados – os bolsões se transformaram em praças ou edifícios de uso misto, a depender do contexto – e, com a fiscalização eficiente, nem os carros da polícia estacionam mais na calçada.

No Plano Piloto, o Eixão passou para as mãos do DETRAN, assumindo papel de via urbana, com canteiro central arborizado, calçadas lindeiras e ciclovias. Ele e os eixinhos foram semaforizados, e as pessoas – principalmente moradoras das superquadras – circulam sem medo entre os lados leste e oeste da cidade. Reduziram-se a zero as mortes na via por atropelamento ou sinistros de trânsito, e o Eixão do Lazer continua mais vivo do que nunca!

A ousada medida de se colocar um H (de Habitacional) na sigla dos setores monofuncionais ampliou a oferta de moradia variada no Plano Piloto, em reconversão de prédios ou criação de novos. A atuação do IPHAN vem garantindo o respeito ao gabarito, à volumetria, à proporção cheios/vazios que cada escala da cidade preconiza. Brasília é hoje uma metrópole mais equilibrada e justa. Sua área tombada, mais vibrante e diversa, continua com o selo da UNESCO!

Apesar da polêmica, protestos e boicotes que essas e outras ações geraram (pessoas são resistentes a mudanças, e há muitos interesses na manutenção do status quo), fato é que o GIDF se manteve firme em seu compromisso de transformação.

A Brasília de 2035 é imensamente grata à Brasília de 2025, que teve a coragem de reconhecer seu atraso e começar a se reinventar.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Arquiteta, professora da área de urbanismo da FAU/UnB. Adora levantamento de campo, espaços públicos e ver gente na rua. Mora em Brasília. ([email protected])
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