As cidades brasileiras são boas para caminhar? Metade dos projetos já priorizam pessoas em vez de veículos
8 de outubro de 2024Relatório inédito do Instituto Caminhabilidade apresenta uma análise do panorama da caminhabilidade no Brasil desde a Política Nacional de Mobilidade Urbana, de 2012, com base nas edições de 2021 e 2023 do Prêmio Cidade Caminhável
Estamos no Outubro Urbano, uma iniciativa da ONU Habitat para refletir sobre como as cidades podem ser mais sustentáveis, inclusivas e seguras. Os carros, além de poluírem o ar e consumirem muito combustível, moldaram a infraestrutura urbana, sequestrando espaços, investimentos e impermeabilizando solos. Para criar cidades mais convidativas e menos dependentes de veículos motorizados, precisamos torná-las mais caminháveis.
No Brasil, segundo o relatório inédito Prêmio Cidade Caminhável: Panorama dos Projetos de Caminhabilidade no Brasil de 2012 a 2022, alguns projetos já estão priorizando pessoas ao invés de veículos. Desde a criação da Política Nacional de Mobilidade Urbana, as cidades começaram a realizar projetos focados em caminhabilidade, que aumentaram significativamente a partir de 2018.
Analisando 57 projetos inscritos no Prêmio nas edições de 2021 e 2023, observou-se que, para priorizar o caminhar no espaço urbano, é essencial reduzir a área destinada aos veículos. Em mais de 50% dos projetos, houve redistribuição do espaço viário, acalmamento de tráfego e acessibilização de rotas. Um exemplo notável é o projeto de Requalificação da Avenida Desembargador Moreira em Fortaleza (CE), que transformou duas pistas de tráfego em um amplo calçadão e ciclovia.
A requalificação urbana tem sido a ação predominante nos projetos de caminhabilidade, trazendo mudanças concretas e de longo prazo na vida das pessoas. Os parques urbanos, especialmente os Parques Lineares, têm se destacado como áreas de esporte e lazer, além de integrarem a natureza. Um exemplo é o Parque Linear das Hortas do Dirceu, em Teresina (PI), que renovou 4,5 km de hortas comunitárias.
A caminhabilidade também avança nas periferias. Enquanto 38,6% dos projetos estão em áreas centrais, 31,6% estão em regiões marginalizadas, desafiando a ideia de que a caminhabilidade é exclusiva das áreas centrais. Um exemplo é o Programa de Infraestrutura em Educação e Saneamento de Fortaleza (Proinfra), vencedor do Prêmio em 2023.
No entanto, desafios ainda persistem. Algumas cidades investem em projetos de mobilidade ativa e em infraestruturas para carros, refletindo uma falta de mudança de paradigma. Além disso, não há setores específicos de mobilidade a pé nas prefeituras, e a ausência de incentivos federais força as cidades a se autofinanciar.
Outro obstáculo é diversificar o uso do solo, garantindo proximidade e criando destinos acessíveis a pé. Mais de 80% das pessoas nas cidades brasileiras estão a mais de 15 minutos a pé de escolas e serviços médicos, segundo a pesquisa “Cidades de 15 minutos – caminhar nas cidades brasileiras”. O relatório mostra caminhos para desenvolver cidades centradas nas pessoas e não nos carros, uma decisão urgente para a adaptação das cidades diante da emergência climática que já nos afeta.
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.