Nesta semana realizou-se a Smart City Expo Curitiba (20 a 22 de março), evento que conta com a chancela da Fira de Barcelona, sociedade que é uma das principais organizadoras de feiras do mundo, especialmente industriais e profissionais. Fundada em 1932, a Fira é um consórcio que reúne a Câmara Municipal de Barcelona, o Governo Catalão e a Câmara de Comércio de Barcelona, e os eventos que ela promove atraem líderes em segmentos como alimentação, tecnologia, saúde, moda, indústria automotiva, entre outros, com uma receita que no ano de 2022 superou os 200 milhões de euros. No campo das cidades, o Smart City Expo World Congress, organizado pela Fira e que acontece anualmente na cidade de Barcelona desde 2011, é considerado o maior e mais influente evento em inovação urbana, conectando líderes empresariais, governamentais e do terceiro setor. Em 2023, o congresso recebeu mais de 25 mil participantes de 800 cidades e 132 países em mais de 270 sessões temáticas que contaram com quase 600 palestrantes e mais de 1000 expositores. Foi também nesse evento que Curitiba foi eleita a “cidade mais inteligente do mundo”, arrebatando o principal prêmio do World Smart City Awards na categoria “Cidades”.
Em 2023, na sua então quarta edição, a Smart City Expo Curitiba recebeu cerca de 15 mil visitantes, com 400 delegações provenientes de todos os estados brasileiros e prefeitos de 450 municípios, representantes de 35 países, 180 palestras e 65 expositores em temas afetos à inovação urbana. Esses números tornaram o evento o segundo maior dentre os chancelados pela Fira no mundo, considerando que, além de Barcelona, cidades como Mérida, Bogotá, Doha, Xangai e Nova Iorque realizaram edições da Smart City Expo no ano em questão. A Expo curitibana é capitaneada pelo hub de cidades inteligentes iCities e tem apoio da Prefeitura de Curitiba, do Vale do Pinhão (ecossistema de inovação e empreendedorismo da Agência Curitiba de Desenvolvimento S/A) e de diversos parceiros governamentais/institucionais e privados.
A atuação da Fira e a Smart City Expo são exemplos da força de um segmento econômico que atende pela sigla um tanto desafortunada de MICE (Meetings, Incentives, Conferences and Exibitions), traduzido livremente como turismo de negócios e eventos que, em números globais, movimenta anualmente cerca de um trilhão de dólares. No Brasil, segundo pesquisa da Associação Brasileira de Agência de Viagens Corporativas – Abracorp -, o segmento faturou no ano de 2022 cerca de 11,2 bilhões de reais, praticamente retomando o patamar pré-pandemia.
No cenário nacional, Curitiba é o terceiro maior destino para o turismo de negócios, eventos e convenções, atrás apenas das duas cidades que polarizam o segmento, São Paulo e Rio de Janeiro, e é também o terceiro destino de negócios mais procurado por estrangeiros (MTur-Fipe, 2019).
Outro ranking, da CWT Meetings & Events, divisão da empresa global de gestão de viagens CWT (Compagnie des Wagons-Lits, cuja origem remonta ao ano de 1872 e cujo fundador, o belga Georges Nagelmackers, criou o icônico Orient Express), posiciona Curitiba entre as dez principais cidades para eventos na América Latina, na sexta posição, para o ano de 2020. Na frente estão São Paulo, Bogotá, Lima, Rio de Janeiro, Cidade do México, e depois Medellín, Belo Horizonte, Buenos Aires e Cartagena. Dados da Associação Internacional de Congressos e Convenções (ICCA, em inglês), divulgados pelo MTur (2017), apontam que Curitiba está entre as 10 cidades brasileiras que mais promovem eventos internacionais.
A temporada natalina na cidade, já tradicional, liderada pela prefeitura com o patrocínio de diversas empresas, muitas delas sediadas regionalmente, tem registrado números expressivos. A edição Natal de Curitiba – Luz dos Pinhais 2023, ao longo de seus 47 dias de eventos, que tiveram majoritariamente os espaços públicos da cidade como seus principais palcos para as ações culturais e de lazer, atraiu mais de 2 milhões de visitantes (um aumento de 111% em relação ao ano anterior), dos quais mais de 300 mil eram turistas. Os dados da temporada de 2022 coletados pelo Instituto Municipal de Turismo de Curitiba indicam uma permanência média de 4,5 noites destes visitantes, que deixaram mais de 70 milhões de reais na economia local.
Comparando os dados das últimas pesquisas de demanda turística publicadas pelo Instituto Municipal de Turismo de Curitiba, o número de turistas visitando a capital passou de 5,5 para 7,8 milhões entre 2018 e 2022. Em 2018, 36,7% declararam negócios/motivo profissional como principal razão da viagem, e 5% a participação em eventos; em 2022, 28,4% declararam negócios/motivo profissional e 12,7% a participação em eventos. A pesquisa de 2018 disponibiliza dados qualitativos, que mostram que 99% dos respondentes recomendariam o destino Curitiba. Temas específicos também foram avaliados em uma escala de 1 a 5, com itens como Áreas Verdes (4,7), Qualidade de Vida (4,4), Limpeza Pública (4,4) e Transporte Coletivo (4,3) pontuando bem, enquanto Segurança Pública (4,0) e Trânsito (3,7) acumularam mais críticas. E dentre os atrativos mais marcantes citados pelos visitantes, os parques e áreas verdes da cidade concentraram a maioria das referências (o Jardim Botânico, por exemplo, computa sozinho quase 20% das menções).
Em que se pese que rankings, prêmios e pesquisas tenham cada qual seus vieses específicos, o ponto que se quer destacar a partir dessas informações é que uma cidade brasileira que não tem o peso econômico da macrometrópole paulista, nem os atrativos naturais e o glamour da antiga capital federal, alcançou um destaque que transcende as fronteiras do país no segmento do turismo de negócios, eventos e congressos, muito em virtude de atributos planejados, implantados e cultivados de qualidade de vida urbana, de valorização dos espaços coletivos, de uma atuação proativa do poder público e de um posicionamento engajado e consistente do setor privado. Ou seja, um somatório de características positivas que se retroalimentam e que colocam a cidade em evidência, posicionando-a como um destino desejável e atraente.
O Jaime sempre colocava que a cidade que é boa para se morar é boa para se investir e visitar. Ou seja, o desenvolvimento econômico e a atividade turística não são entendidos para o usufruto de uma parcela seleta da população ou para “quem vem de fora”. Ao contrário, aquilo que na cidade tem destaque por ser bom, belo, qualificado e próspero deve ser pensado para os “de casa”, para daí ser compartilhado com generosidade, graça e alegria com o mundo. Nesse sentido, amigos são amigos e negócios não são à parte; são fruto de uma relação convivial de respeito e apreço pelos atributos de um lugar e de seu povo.
Ariadne dos Santos Daher
*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.