A resposta da natureza: enfrentando mudanças e aprendendo com as adversidades

16 de novembro de 2023

As situações de emergência relacionadas a fenômenos climáticos estão em alta nos noticiários. 

No momento em que escrevo, Belo Horizonte e outras 463 cidades de Minas Gerais estão sob alerta de tempestades de granizo e fortes ventos de até 100 km/h. Em Santa Catarina, há 78 cidades com ocorrências e 31 em estado de emergência por causa das enchentes: alagamentos, deslizamentos de terra, chuvas intensas e granizo danificaram residências e muitas pessoas estão desabrigadas. 

No Norte e no Nordeste brasileiros o cenário também é alarmante. No mês de setembro de 2023, foram registrados no Ceará mais de 12 mil focos de calor em 179 cidades, informa a Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (FUNCEME). Já no rio Amazonas, o nível da água está descendo cerca de 13 a 14 centímetros diários e oito estados amazônicos enfrentam agora a mais severa seca dos últimos 40 anos. Uma crise climática de proporções históricas. De acordo com a Defesa Civil, o estado amazonense tem 55 de seus 62 municípios em estado de emergência ambiental desde 30 de setembro.

Enchentes em Santa Catarina. (Imagem: Roberto Zacarias)
Enchentes em Santa Catarina. (Imagem: Roberto Zacarias)
Áreas atingidas pela forte estiagem na região de Catalão (AM). (Imagem: Cadu Gomes/VPR)
Áreas atingidas pela forte estiagem na região de Catalão (AM). (Imagem: Cadu Gomes/VPR)

Diante de tantas emergências simultâneas, a vulnerabilidade de nossas cidades às mudanças climáticas surge como fratura exposta, e as soluções urbanas de adaptação/reação às crises, quando existem, revelam sua insuficiência. Será que estamos nos preparando corretamente para a realidade das crises climáticas?

Cidades Sustentáveis: adaptar para sobreviver

Segundo o Censo Demográfico de 2022, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), 124,1 milhões de brasileiros vivem em concentrações urbanas (áreas com mais de 100.000 habitantes). Isso equivale a 61% da população total do país. Pensando em áreas urbanas em geral, sobe para 85% o percentual de brasileiros que nelas vivem – 80% dos quais ocupam menos de 1% do enorme território nacional. 

Ao concentrar tão enormes contingentes humanos, o crescimento urbano gera pressões e impactos negativos sobre o meio ambiente; poluição sonora/visual; saneamento básico deficitário; destruição e bloqueio de córregos; acúmulo de lixo; favelização e problemas de mobilidade – sem falar na desigualdade e no crime! As mudanças climáticas vêm como fator transversal a agravar todos os problemas urbanos preexistentes, podendo transformá-los em desastres plenos se não houver reação.  

Para Teixeira e Pessoa (2021), as cidades enfrentam (ou não) as mudanças climáticas por duas vias principais: a mitigação e a adaptação. A primeira é considerada pouco efetiva, uma vez que não altera os padrões insustentáveis de produção e consumo de bens – nem modifica os modelos de gestão urbana em face de impactos climáticos que, como vimos, já são concretos.

Já a adaptação é considerada uma estratégia mais efetiva, sendo definida como um processo de ajustamentos que objetiva antecipar os possíveis e potenciais impactos locais das mudanças climáticas, de modo a reduzir as múltiplas vulnerabilidades a situações de riscos socioambientais. Uma cidade bem adaptada é aquela que identifica a quais riscos climáticos está mais exposta e constrói soluções apropriadas para combatê-los. 

Estudos brasileiros recentes, como os de Sathler, Paiva & Baptista (2019) e Espíndola & Ribeiro (2020) sugerem que os planos diretores municipais expressam baixa preocupação com a diminuição de emissões de Gases de Efeito Estufa (GEE) e com a adaptação aos efeitos locais de mudanças climáticas. 

Teixeira e Pessoa (2021) identificam ainda um conjunto de aspectos-chave cuja presença ajuda a fortalecer a capacidade adaptativa de uma cidade:

Através de um estudo de caso comparativo entre Natal e Curitiba, nos próximos artigos pretendemos explorar em detalhes estratégias específicas de planejamento e adaptação. Encorajamos o leitor a considerar atentamente se sua própria cidade está verdadeiramente preparada para enfrentar os desafios climáticos iminentes. O sofrimento recente em várias regiões do Brasil ressalta uma lição crucial: devemos reconhecer e respeitar os limites da natureza, e ajustar nossas práticas antes que as consequências se tornem ainda mais severas.

Através da reflexão e ação conjunta, podemos aspirar a um futuro onde o equilíbrio entre o desenvolvimento urbano e a preservação ambiental seja uma realidade tangível.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Arquiteta e urbansita, especialista em Gestão de Projetos e mestre em arquitetura pela UFRN. Atualmente é sócia da PSA Arquitetura em São Paulo e da PYPA Urbanismo & Desenvolvimento Urbano em Natal-RN. ([email protected])
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