A novela pelos céus do Brasil

17 de abril de 2024

Há milênios, a busca do homem em alcançar o céu é desejada e disputada. Desde a construção das pirâmides do Egito e dos templos religiosos da Idade Média, o simbolismo da altura cumpriria a necessidade de chegar mais próximo de Deus. No Antigo Testamento, a vontade dos homens de alcançar a Deus era tanta que queriam construir uma torre, a Torre de Babel, para chegar à morada divina. O conto bíblico Babel – “confusão” em hebraico – trata sobre castigo, pois aproximar-se de Deus seria um esforço em vão. 

Desde então, a tentativa da ascensão às alturas enseja um entendimento de soberba, de orgulho e de poder, que se traduz em diversas disputas e rivalidades, que seguem ao longo da história da humanidade.

No início da era dos arranha-céus, as duas cidades “berço” da tipologia – Chicago e Nova York – disputaram entre si, até meados da década de 1970, quem teria o edifício mais alto do mundo. Os primeiros foram construídos em Chicago, mas, imediatamente, a proliferação de altos edifícios em Nova York começou e ultrapassou as alturas da “Cidade dos Ventos”.

Já em Nova York, a competição seguiu até mesmo entre seus próprios edifícios, como o curioso caso do Chrysler Building que, em 1929, secretamente ultrapassou a torre do 40 Wall Street do dia para noite. O motivo da rápida superação foi um pináculo, construído internamente da edificação para ocultar de seus “rivais” e pudesse, enfim, se tornar o edifício mais alto do mundo. Dois anos depois, o mesmo perdeu o título para o Empire State Building

Na história da verticalização brasileira, também já aconteceram algumas disputas, como a competição entre Rio de Janeiro e São Paulo. Porém, na última década, a disputa pelos céus do Brasil ganhou ares de novela em Balneário Camboriú. 

O One Tower, da FG Empreendimentos, foi lançado em 2015, para ser o edifício mais alto em solo brasileiro com aproximadamente 280m de altura, superando outros arranha-céus da mesma incorporadora, o Infinity Coast Tower (234,8m), em construção naquele ano, e o Millennium Palace (177,3m), o mais alto na época. 

Em seguida, a Pasqualotto & GT anunciou a construção das torres gêmeas Yachthouse by Pininfarina ultrapassando por muito pouco a altura do arranha-céu da FG, com 280,3m e o seguinte slogan: o edifício residencial mais alto da América Latina. 

Para o One Tower voltar ao topo do Brasil, os desenvolvedores, mantiveram em sigilo a altura do pináculo até estar praticamente concluído. Portanto, quando inaugurado, em meados de 2022, o arranha-céu da FG passou a ter 290m de altura, superando em 10m as torres da Pasqualotto & GT e ganhando os títulos de edifício mais alto do Brasil e residencial mais alto da América Latina, prêmio almejado pela concorrência. 

Há pouco tempo, com as obras quase finalizadas, os desenvolvedores da Yachthouse, abriram mais um capítulo desta novela. Foram divulgadas imagens inéditas das torres com pináculos e o movimento de obras no heliponto chamou a atenção dos moradores de B.C.. A Pasqualotto & GT alega que os pináculos estavam no projeto original, mas a verdade é que nenhuma imagem de venda divulgada anteriormente possuía aqueles dois “charutos” que se assemelham a dutos de chaminés.

Agora resta saber, com os pináculos concluídos, se o CTBUH irá considerá-los como parte da arquitetura das torres. Em caso  positivo, o slogan “o mais alto edifício residencial da América Latina” será validado de vez, pois dificilmente a FG tentará ocupar o posto novamente, já que possui planos para edificações ainda mais altas. Em caso de negativo, de nada terá adiantado a soberba e orgulho de se atingir o topo do Brasil e da América Latina.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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