A importância da revitalização dos micro espaços públicos

29 de março de 2024

Na maioria das favelas, os espaços são limitados, há poucas áreas verdes e de convivência,  muitas vezes os que restam são subutilizados, espaços esses que têm o potencial de se tornarem preciosos recursos comunitários, especialmente para famílias e crianças, criando ambientes mais agradáveis e seguros, com parques infantis, jardins comunitários, áreas de recreação e esporte ou até mesmo espaços para eventos culturais. A revitalização de pequenos espaços pode ter um impacto positivo no meio ambiente local, promovendo a biodiversidade, reduzindo o calor urbano e melhorando a qualidade do ar. 

A escritora Jane Jacobs, ao analisar a cidade com um olhar crítico e na posição de usuária do espaço livre público, afirma que as calçadas movimentadas têm também aspectos positivos para a diversão das crianças, e esses aspectos são no mínimo tão importantes quanto a segurança e a proteção. As crianças da cidade precisam de uma boa quantidade de locais onde possam brincar e aprender. Precisam, entre outras coisas, de oportunidades para praticar todo tipo de esporte e exercitar a destreza física –  e oportunidades mais acessíveis do que aquelas de que desfrutam na maior parte dos casos. Ao mesmo tempo, no entanto, precisam de um local perto de casa, ao ar livre, sem um fim específico, onde possam brincar, movimentar-se e adquirir noções do mundo. É essa espécie de recreação informal que as calçadas propiciam, e as calçadas movimentadas da cidade têm ótimas condições de fazê-lo. 

Neste contexto, ao revitalizar uma região densamente povoada de Bangcoc, na Tailândia, foram recuperados importantes espaços de encontro comunitário sob a forma de campos de futebol com formatos peculiares. No bairro Khlong Toei, faltavam áreas para os adolescentes se reunirem de forma segura e produtiva. De forma engenhosa, a AP Thai, em colaboração com CJ Worx, transformou terrenos irregulares e cheios de lixo em espaços onde os moradores locais podem praticar o futebol, o esporte mais popular do país. Essa iniciativa proporcionou aos jovens do bairro, que muitas vezes vivem no mesmo prédio, mas raramente interagem devido à falta de espaços comunitários, a oportunidade de se socializarem e demonstrarem suas habilidades no campo, fortalecendo os laços comunitários, como mostra a matéria de Jessica Stewart.  

Embora se acredite que Khlong Toei seja um bairro sem qualquer espaço utilizável, a incorporadora AP Thai descobriu que esse não era o caso. “Acreditamos firmemente que ‘o espaço pode mudar a vida de uma pessoa’ e ver a comunidade reunida para desfrutar [das quadras] significou que atingimos o nosso objetivo.”

Para alguns moradores, era difícil conceber a ideia de jogar futebol num campo tão estranho. Na realidade, as suas formas abriram novas perspectivas – e não apenas sobre o jogo. O conceito de espaço “inútil” ou “desperdiçado” foi invertido, mostrando que a recreação ao ar livre pode ser inserida no tecido urbano mesmo nos ambientes mais inesperados, como as imagens do projeto evidenciam.

Para uma política pública eficaz no sistema de espaços livres, é fundamental que espaços públicos sejam projetados e mantidos de forma a gerar atrativos que incentivem a permanência, a circulação e o convívio público. Esses elementos são essenciais para promover territórios mais inclusivos, vibrantes e socialmente conectados.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Arquiteta e ativista urbana, pós graduada em urbanismo social e habitação e cidade, mestre em Projeto, Produção e Gestão do Espaço Urbano, Doutoranda em Arquitetura e Urbanismo, atua com a gestão de projetos e ações sociais em territórios periféricos no Instituto Fazendinhando.
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