A cidade de 15 minutos é uma utopia que distrai

27 de março de 2023

A cidade de 15 minutos é um conceito que foi defendido pela primeira vez por Carlos Moreno, o consultor de planejamento urbano de Anne Hidalgo, a atual prefeita de Paris. Em qualquer cidade grande, como Paris ou São Paulo, chegar a qualquer parte da cidade em menos de 15 minutos seria maravilhoso!

A área urbana de São Paulo, medida de leste a oeste, cobre uma distância de 85 quilômetros. Percorrer essa distância em quinze minutos exigiria um veículo rodando a uma velocidade média de 340 quilômetros por hora. O Shanghai Maglev, o trem operacional mais rápido do mundo, tem uma velocidade média de 244 km/h e atinge uma velocidade máxima de 431 km/h.

Portanto, viajar menos de 15 minutos de uma estação para outra em uma área urbana não é uma impossibilidade tecnológica. No entanto, talvez ainda não seja uma solução de transporte financeiramente viável.

Mas adotar tecnologia de ponta no transporte urbano não era o que o professor Moreno tinha em mente quando defendeu que Paris fosse redesenhada como uma cidade de 15 minutos. Pelo contrário, ele deseja que os parisienses abandonem as redes existentes de metrô e ônibus para limitar seu meio de transporte à caminhada ou à bicicleta.

Moreno defende a subdivisão das cidades em pequenas aldeias autossuficientes com uma área de cerca de 300 hectares, correspondente à área que um pedestre consegue percorrer em quinze minutos.

Moreno define a cidade de 15 minutos em sua TED talk de outubro de 2020:

“A ideia é desenhar ou redesenhar as cidades para que em um máximo de 15 minutos, a pé ou de bicicleta, os moradores da cidade possam aproveitar a maior parte do que constitui a vida urbana: acesso aos empregos, seus lares, comida, saúde, educação, cultura e lazer.”

Moreno explica ainda como implementar sua ideia:

“Como vamos alcançar isso? A prefeita Anne Hidalgo sugeriu um “big bang de proximidade” que inclui, por exemplo, descentralização massiva, o desenvolvimento de novos serviços para cada bairro.”

Ele sugere que planejadores urbanos inteligentes poderiam trazer empregos desejáveis, lojas de alimentos, saúde, educação e instalações culturais a um raio de caminhada de 15 minutos de cada casa.

Estranhamente, os prefeitos e a imprensa levaram muito a sério a possibilidade de criar cidades caminháveis de 15 minutos. Essa tornou-se a “visão” declarada de muitas cidades e o tema de numerosos artigos em jornais de prestígio como a New York Magazine, o Washington Post, o The Guardian e o Financial Times.

No entanto, o conceito de cidades divididas em enclaves autossuficientes contraria tudo o que sabemos sobre a economia das grandes cidades.

Dados econômicos de cidades em todo o mundo demonstram que grandes mercados de trabalho são mais produtivos e inovadores do que os menores. O aumento da produtividade e uma ampla escolha de vários empregos são os motivos pelos quais as pessoas continuam a migrar para São Paulo, apesar dos altos aluguéis e das longas viagens.

Se o mercado de trabalho de São Paulo fosse fragmentado em enclaves autossuficientes limitados a 15 minutos de caminhada, a produtividade da cidade cairia rapidamente e as pessoas logo trocariam a metrópole fragmentada por uma cidade mais produtiva.

 Conforme descrito, a cidade de 15 minutos de Moreno não tem chance de ser implementada, pois as restrições econômicas e financeiras limitam severamente a localização de empregos, comércio e instalações comunitárias. Nenhum planejador pode redesenhar uma cidade situando lojas e empregos de acordo com seus caprichos.

Então, por que dedicar um artigo ao assunto? Porque esta última moda em planejamento é uma distração custosa de enfrentar os problemas reais de transporte enfrentados pelas grandes metrópoles. Se todos devem caminhar para o trabalho, não há necessidade de melhorar a velocidade e a eficiência do transporte e fazer o investimento significativo necessário.

Os prefeitos e seus funcionários devem promover uma cidade de 30 minutos, mas uma cidade onde veículos mecanizados sejam tão eficientes que um trabalhador possa chegar a qualquer emprego em uma área metropolitana em uma viagem de menos de 30 minutos de porta em porta.

*Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Caos Planejado.

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Urbanista, pesquisador do NYU Marron Institute e autor do livro Ordem sem Design.
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